“Numa nova avaliação de risco, o ECDC afirmou que é altamente provável que a UE/EEE [União Europeia e Espaço Económico Europeu] venham a registar mais casos importados de varíola causada pelo vírus da clade I que circula atualmente em África”, a variante mais perigosa da doença.

Ainda assim, o centro europeu refere que “a probabilidade de transmissão sustentada na Europa é muito baixa, desde que os casos importados sejam diagnosticados rapidamente e que sejam aplicadas medidas de controlo”.

O ECDC pede um “reforço do grau de preparação devido à elevada probabilidade de ocorrência de mais casos importados de mpox de clade I”, recomendando desde logo que os países europeus emitam “conselhos de viagem para as pessoas que visitem ou regressem de áreas afetadas pelo surto” em África, dada a elevada probabilidade de infeção e o risco moderado para os contactos próximos.

Apela, também, a que as autoridades de saúde pública da UE/EEE mantenham elevados níveis de planeamento da preparação e de atividades de sensibilização para permitir a rápida deteção e que façam uma “vigilância eficaz, testes laboratoriais, investigação epidemiológica e capacidades de rastreio de contactos”.

Se se verificar este reforço da preparação, o ECDC estima que o impacto da variante mais perigosa da doença na Europa “seja reduzido”.

Hoje mesmo, a Direção-Geral da Saúde (DGS) esclareceu que nenhum dos casos de mpox reportados em Portugal é da variante mais perigosa da doença (clade I), que apareceu na quinta-feira pela primeira vez na Suécia.

Em resposta à agência Lusa, a DGS explica que “todos os casos reportados em Portugal são da clade I IIb do vírus monkeypox, não tendo sido identificado nenhum caso pela clade I”.

Na quinta-feira, depois de a Suécia ter registado o primeiro caso de uma variante mais contagiosa e perigosa da doença, a Organização Mundial de Saúde (OMS) alertou para a possibilidade de serem detetados na Europa outros casos importados de mpox, anteriormente conhecida como varíola dos macacos.

A OMS já tinha declarado, na quarta-feira, o surto de mpox em África como emergência global de saúde, com casos confirmados entre crianças e adultos de mais de uma dezena de países e uma nova variante em circulação.

Esta é a segunda vez em dois anos que a doença infecciosa é considerada uma potencial ameaça para a saúde internacional, um alerta que foi inicialmente levantado em maio do ano passado, depois de a sua propagação ter sido contida e a situação ter sido considerada sob controlo.

A nova variante pode ser facilmente transmitida por contacto próximo entre dois indivíduos, sem necessidade de contacto sexual, e é considerada mais perigosa do que a variante de 2022.

O mpox transmite-se sobretudo pelo contacto próximo com pessoas infetadas, incluindo por via sexual.

OMS pede resposta unificada perante a expansão da doença, mas sem pânico

A Organização Mundial da Saúde (OMS) pediu hoje para uma resposta internacional unificada, perante a identificação da nova variante do vírus Mpox na Europa e que as pessoas não entrem em pânico com exemplos "alarmistas".

"A identificação da primeira infeção da clade (variante) 1b do Mpox na Suécia sublinha a necessidade de os países afetados combaterem o vírus em conjunto", afirmou o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus.

O responsável encorajou todos os países a melhorar a vigilância, a partilhar os dados de que dispõem e a trabalharem para compreender melhor a transmissão, bem como a partilhar as vacinas de que dispõem.

A porta-voz da OMS, Margaret Harris, disse aos repórteres internacionais em Genebra que não havia necessidade de entrar em pânico devido aos relatos que circulam de pessoas que foram infetadas apenas por apertarem a mão a alguém que estava infetado mas que ainda não apresentava erupções cutâneas.

"Muitas vezes temos este tipo de exemplos alarmistas, mas esta doença propaga-se através de um contacto muito próximo, que vemos nos lares, de mães para filhos, através de relações sexuais ou através da roupa de cama ou da roupa de alguém que está infetado", explicou.

“Muitas vezes, é quando as bolhas são visíveis e há líquido nas bolhas", disse.

Um dia depois da notificação do caso sueco, as autoridades paquistanesas comunicaram, hoje, o primeiro caso confirmado de varíola na Ásia desde que a OMS declarou uma emergência global para a doença.

"Foi confirmado que um paciente tem o vírus da varíola", disse à agência de notícias EFE o porta-voz do Ministério da Saúde, Sajid Shah, acrescentando que o paciente tinha regressado recentemente de um país do Golfo.

A Federação Internacional das Sociedades da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho (FICV) afirmou, hoje, em Genebra, que a doença afeta particularmente as comunidades marginalizadas, que necessitam de informação clara sobre a forma de se protegerem e de identificarem os sintomas.

Também precisam de ser convencidas a procurar assistência médica quando há sinais de infeção e, para isso, o estigma em torno da doença, que é a principal razão pela qual as pessoas não procuram ajuda, deve ser combatido.

A especialista em emergências sanitárias da FICV, Bronwyn Nichol, disse que não era de surpreender que o vírus tivesse aparecido na Europa, mas sublinhou que isso não deveria desencorajar os países com reservas de vacinas a doar para África, onde o vírus está a circular amplamente.

De acordo com a OMS, existe atualmente meio milhão de uma das duas vacinas que foram desenvolvidas em processos rápidos contra o Mpox, podendo ser produzidas mais 2,5 milhões de doses no próximo ano.

Harris não deu informações sobre os países que têm doses da primeira vacina, embora tenha dito que há "promessas" de doações para África. Um segundo tipo de vacina foi produzido em nome do Japão, mas não foi comercializado, e a OMS espera que o Japão também possa partilhá-lo.

A “varíola dos macacos” é uma doença viral que se propaga dos animais para os seres humanos, mas também é transmitida por contacto físico próximo com uma pessoa infetada com o vírus.

O Mpox foi descoberto pela primeira vez em seres humanos em 1970, na atual RDCongo (antigo Zaire), com a propagação do subtipo clade I (do qual a nova variante é uma mutação), que desde então tem estado principalmente confinado a países da África Ocidental e Central, onde os doentes são geralmente infetados por animais.

Em 2022, uma epidemia mundial do subtipo clade 2 propagou-se a uma centena de países onde a doença não era endémica, afetando principalmente homens homossexuais e bissexuais.

A OMS declarou um alerta máximo em julho de 2022 em resposta a este surto mundial, mas levantou-o menos de um ano depois, em maio de 2023. A epidemia causou cerca de 140 mortes num total estimado de 90.000 casos.