"A resistência tem uma grande capacidade para continuar", disse Osama Hamdan em entrevista à AFP em Istambul. "Houve mártires e sacrifícios [...] mas, em troca, houve uma acumulação de experiência e o recrutamento de novas gerações na resistência", acrescentou.

As suas declarações são feitas menos de uma semana depois do ministro da Defesa israelita, Yoav Gallant, ter afirmado à imprensa que o Hamas "já não existe como formação militar" em Gaza.

Os países mediadores — Estados Unidos, Qatar e Egito — tentam há meses negociar um cessar-fogo e um acordo para a troca de reféns e prisioneiros entre Israel e Hamas, mas as negociações estão num impasse.

Ambos os lados acusam-se mutuamente de bloquear as conversações. O alto dirigente do Hamas acusou os Estados Unidos de não pressionar Israel para alcançar um acordo de cessar-fogo na Faixa de Gaza.

"A administração dos Estados Unidos não está a exercer pressão suficiente ou adequada sobre a parte israelita", afirmou o representante do movimento palestiniano. "Em vez disso, está a tentar justificar que a parte israelita evite qualquer compromisso", acrescentou Hamdan.

O governo do primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, enfrenta forte pressão dentro de Israel para garantir a libertação dos reféns que ainda estão detidos na Faixa de Gaza.

Netanyahu acusou o Hamas de rejeitar qualquer compromisso e disse que não cederia "à pressão" sobre os pontos que bloqueiam as negociações.

O Hamas exige uma retirada israelita completa de Gaza, incluindo do corredor Filadélfia, uma estreita faixa de terra ao longo da fronteira com o Egito, que se tornou um dos principais obstáculos nas conversações.

Netanyahu afirmou que pelo menos 17 mil combatentes do Hamas morreram desde o início da guerra em Gaza.

A guerra entre Israel e o Hamas mobiliza outros movimentos na região em solidariedade aos palestinianos, especialmente o Hezbollah libanês e os rebeldes huthi do Iémen.

Estes últimos dispararam um míssil que caiu neste domingo no centro de Israel, sem causar vítimas, mas obrigando muitos israelitas a dirigirem-se para abrigos na região de Tel Aviv.

Para Osama Hamdan, isso é "uma mensagem dirigida a toda a região, mostrando que Israel não é uma entidade imune" e que "as suas capacidades têm limites".

Hamdan também quis enviar uma mensagem aos líderes árabes que normalizaram as suas relações diplomáticas com Israel, ou que planeiam fazê-lo, perguntando o que sentiriam se os seus países fossem ocupados enquanto o resto do mundo permanecesse indiferente. "Se consideram Israel uma bênção [...], deveriam ceder uma parte dos seus países", ironizou.

O dirigente palestiniano mencionou ainda os possíveis cenários pós-guerra, assegurando que o líder do Hamas, Yahya Sinwar, nunca abandonará o território sitiado.

"O próximo governo de Gaza deve ser um governo palestiniano comum", declarou Osama Hamdan, acrescentando que representantes das diferentes facções palestinianas vão reunir-se em breve no Cairo para desenvolver uma visão comum para o pós-guerra.

A guerra entre Israel e o Hamas começou em 7 de outubro com o ataque do movimento islamista no sul de Israel, que resultou na morte de 1.205 pessoas, incluindo reféns mortos ou assassinados em cativeiro, segundo um levantamento da AFP com base em dados oficiais israelitas.

Os comandos islamistas sequestraram naquele dia 251 pessoas, das quais 97 continuam detidas em Gaza, incluindo 33 que, segundo o Exército israelita, estão mortos.

A campanha militar de Israel contra a Faixa de Gaza deixou até o momento 41.206 mortos, de acordo com o Ministério da Saúde deste território governado pelo Hamas desde 2007.