Quase um ano depois, o número de vítimas do ataque subiu para 1.205 mortos, incluindo os reféns sequestrados pelo Hamas que morreram em cativeiro.

A seguir, um relato cronológico do dia mais letal da história do Estado de Israel.

Ataque surpresa

Às 6H29, o Exército israelita deteta milhares de roquetes lançados a partir da Faixa de Gaza contra localidades na fronteira do sul do país.

O movimento islamita Hamas, que governa Gaza, reivindica os disparos de quase 5 mil projéteis numa ofensiva batizada de "Operação Inundação de Al Aqsa", em referência à mesquita localizada em Jerusalém Oriental, anexada por Israel, e considerada o terceiro local mais sagrado do Islão.

O sistema de defesa aérea Domo de Ferro de Israel é acionado, mas é rapidamente superado pela intensidade do fogo.

Paralelamente, combatentes do Hamas, que o grupo mais tarde calculou em 1.200, atravessaram a fronteira em motos, camiões e parapentes motorizados.

Eles utilizaram explosivos e escavadoras para quebrar a cerca que separa Gaza de Israel e atacaram quase 50 locais diferentes, de comunidades agrícolas (kibbutz) a bases militares e até um festival de música.

Os milicianos palestinianos assassinaram vários participantes do festival de música eletrónica e seguiram de porta em porta nos kibbutz, executando os moradores.

Em março, um relatório da ONU afirmou haver "motivos razoáveis para acreditar" que foram cometidas violações durante o ataque. Também cita "informações claras e convincentes" de que algumas reféns capturadas naquele dia foram violadas.

Resposta lenta do Exército

Às 08H30, os combatentes islamitas já tinham atacado sete bases militares: Erez, perto da área norte da Faixa de Gaza, Nahal Oz, em frente à Cidade de Gaza, duas localizadas perto do kibutz de Beeri, outra em Reim, perto do centro de Gaza, e mais duas no sul, perto da fronteira com o Egito.

Os moradores dos kibbutz próximos da Faixa de Gaza tiveram que lutar por conta própria contra os agressores durante horas porque o Exército demorou a chegar em seu auxílio.

Os sobreviventes relataram o medo que sentiram nos refúgios das suas casas, enquanto os milicianos do Hamas tentavam arrombar portas, ou como pegaram em armas que tinham ao seu alcance e saíram para impedir o ataque.

No festival de música eletrónica Nova, que reuniu quase três mil pessoas numa área a poucos quilómetros do centro da Faixa de Gaza, os combatentes islamitas executaram um massacre durante horas e mataram pelo menos 370 pessoas.

No kibbutz de Beeri, uma das comunidades mais afetadas, os primeiros reforços individuais chegaram "a partir das 13h30", admitiu o Exército num relatório posterior.

Só às 16h15, uma divisão completa chegou para organizar uma retirada coordenada dos sobreviventes e retomar o controlo da localidade.

O exército anunciou às 18H00 que soldados e civis haviam sido sequestrados pelos milicianos do Hamas e foram levados para Gaza.

Reféns

Os milicianos islamitas sequestraram 251 pessoas a 7 de outubro de 2023. Entre as vítimas estavam 44 participantes do festival Nova e pelo menos 74 moradores do kibutz Nir Oz.

Alguns reféns, incluindo soldados, já estavam mortos quando os criminosos levaram os corpos para Gaza, segundo o Exército.

Há relatos de que há pessoas que podem ter sido mortas por fogo amigo. No kibutz Beeri, por exemplo, várias testemunhas afirmaram à imprensa israelita que um tanque disparou contra uma casa onde estavam 14 moradores detidos pelo Hamas.

A ordem de abrir fogo poderia ser parte do "Protocolo Hannibal" que, segundo o jornal israelense Haaretz, foi aplicado pelo menos três vezes em 7 de outubro.

O protocolo permite o uso da força para impedir a captura de soldados israelitas.

"Estamos em guerra"

Às 11H34, rompendo o habitual descanso do 'sabbath', o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, fez um discurso à nação: "Estamos em guerra".

Durante a tarde, o Exército convocou 360 mil reservistas para reforçar as Forças Armadas, que normalmente contam 170 mil militares, entre soldados de carreira e aqueles que cumprem o serviço militar obrigatório.

Israel iniciou rapidamente bombardeamentos implacáveis em Gaza, o território palestiniano de 2,4 milhões de habitantes, governado desde 2007 pelo Hamas.

Um correspondente da AFP relatou um primeiro ataque a Gaza às 10H39 de 7 de outubro. Desde então, o território foi devastado por ataques aéreos constantes. A ofensiva de represália de Israel já matou pelo menos 41.431 pessoas em Gaza, a maioria civis, segundo dados do Ministério da Saúde do território governado pelo Hamas que a ONU considera confiáveis.

Durante a noite de 7 de outubro, os soldados continuavam a procurar agressores armados que poderiam estar em Israel. Os civis estavam aterrorizados nas suas casas e as ruas permaneceram desertas.

Em 10 de outubro, o Exército anunciou que tinha retomado o controlo de todo o território atacado pelas milícias do Hamas.

Por Louis BAUDOIN-LAARMAN, da AFP