Na passada segunda-feira Gordon Banks deixou-nos. Aos 81 anos, a antiga glória da equipa dos 'três leões' deixa um legado de fazer inveja e que continua a ser a fasquia a alcançar por todos os guarda-redes que representam — e que representarão — as cores da seleção inglesa.

Gordon Banks conseguira 73 internacionalizações pela seleção, incluindo aquela que mais importou, contra a Alemanha Ocidental, no estádio de Wembley, em 1966, na final do Campeonato do Mundo, jogo em que a Inglaterra viria a vencer por 4-2 após prolongamento.

Apesar da sua brilhante carreira internacional, Gordon Banks poderia ter sido mesmo o primeiro guardião inglês a ultrapassar as 100 internacionalizações, não fosse ter perdido a visão no olho direito após um trágico acidente de carro que o levaria, aos 34 anos, a ter que colocar um fim prematuro à sua carreira de futebolista, em 1972. No entanto, de forma a confirmar que os tempos eram de facto outros, dois anos volvidos e Banks regressava aos relvados, com apenas apenas o olho esquerdo ativo, representando o Fort Lauderdale Strikers, um clube dos Estados Unidos da América.

Carreira de jogador

Banks vencera três troféus por equipas ao longo da sua carreira. Conquistou a Taça da Liga por duas vezes, embora ao serviço de dois clubes diferentes. Primeiro, em 1964, defendendo as cores do Leicester City e, mais tarde, em 1972, pelo Stoke City — feito que lhe valeria uma estátua em sua homenagem por parte do clube de Stoke-on-Trent, em 2015.

Pelo meio, em 1966, representando a seleção dos três leões, Banks atingiu o ponto mais alto da carreira de um jogador de futebol. Juntamente com os seus colegas de seleção, Bobby Moore, Geoff Hurst, Bobby Charlton, entre outros, foi campeão do mundo. Até hoje, a única vez na história do futebol inglês que isso se verificou, elevando um pouco mais o seu estatuto de lenda.

Entre os prémios individuais destacam-se dois. Dentro do campo, o prémio de melhor guarda-redes do ano para a FIFA por, imagine-se, seis anos consecutivos. Desde a conquista do mundial em 1966 até 1971, Banks arrecadou o prémio de melhor guarda-redes do ano, um feito incrível.

Fora dos relvados, assim como outras grandes figuras do desporto que já tive a oportunidade de aqui homenagear, Gordon Banks recebeu das mãos da rainha, em 1970, ano do seu último mundial pela seleção inglesa, a condecoração de Oficial da Ordem do Império Britânico (OBE), outro feito, também ele, incrível.

A melhor defesa de todos os tempos

Estávamos a 7 de junho de 1970 e, em Guadalajara, México, a Inglaterra defrontava o Brasil em jogo a contar para a fase de grupos do campeonato do Mundo. Durante o jogo, Gordon Banks já tinha demonstrado estar à altura dos acontecimentos após uma mão cheia de boas intervenções. Ainda assim, ficava a faltar uma defesa que viria a ficar imortalizada na história do futebol.

Com a primeira parte ainda a decorrer, após uma bola em profundidade do Brasil, Gordon Banks, com os olhos fixos na bola, aproximando-se do poste esquerdo da sua baliza, vê Jairzinho, com apenas um toque na bola, tirar da frente Terry Cooper. Logo a seguir, o mesmo Jairzinho, com outro, já quase perder o controlo do lance, mete a bola na área, colocando toda a sua fé no astro brasileiro e um dos melhores avançados de todos os tempos, Pelé, que esperava pacientemente dentro da área.

Contra uma seleção que não o Brasil e principalmente sem um avançado que não Pelé, o lance poderia não ter passado dali, mas a história não queria que assim fosse. Mas de volta ao momento. Continuando sem retirar os olhos da bola, Banks, surpreendido com a velocidade do lance, começa a sua trajetória de volta ao centro da baliza quando, de uma altura impensável, após uma elevação a fazer lembrar os atletas dos dias de hoje, Pelé, num cabeceamento perfeito de cima para baixo e com a oposição de um defesa inglês, coloca o selo de golo na bola.

Fico feliz por ele ter defendido o meu cabeceamento, pois esse foi o princípio da nossa amizade — Pelé

Dirigindo-se a toda a velocidade para a baliza inglesa, deixando Banks sem tempo e espaço para pensar, Pelé obriga o guardião inglês a percorrer a distância da sua baliza num ápice que, sem nada fazer prever, mergulha para o seu lado direito e para trás, tentando encurtar ao máximo a sua trajetória, tendo ainda a capacidade e o discernimento para, com uma palmada, colocar a bola por cima da barra. Estava escrito o capítulo do jogo que, mais que o resultado, ficaria não só na história do jogo, mas também na memória de todos os que viveram o lance em direto, o viriam anos mais tarde, e para aqueles que, ainda hoje, continuam a poder ver um dos lances que marca a história da posição de guarda-redes.

No final do jogo o astro brasileiro disse: "Pensava que era golo certo". Mais tarde, Banks respondeu: "Pensou ele e pensei eu", comprovando mais uma vez a dificuldade da façanha do guardião inglês. Não só o guarda-redes brincara com a situação, também o seu companheiro e capitão de equipa Bobby Moore acabaria por falar sobre o lance, dizendo diretamente ao número um da sua baliza: "Banks, estás a ficar velho, costumavas agarrar essas bolas".

Principalmente no desporto, muitas vezes os momentos mais marcantes acabam por não resultar de troféus, de conquistas ou vitórias, muitas vezes esses momentos vêm de uma ocasião que, pela sua qualidade, marcam quem os vê. Esta defesa foi um desses exemplos. Com a partida de Banks, ficam para trás esta e muitas outras defesas que, aquele que é considerado pela maioria o melhor guarda-redes inglês de todos os tempos, efetuara ao longo da sua carreira. O legado e contribuição de Gordon Banks para o desporto inglês são enormes.