A diferença entre a taxa de emprego dos jovens portugueses com um nível de ensino básico e os licenciados aumentou 6,6 pontos percentuais em 20 anos, sendo mais elevada entre os estudantes com ensino superior, segundo o estudo liderado por Lígia Ferro, da Universidade do Porto, e Pedro Abrantes, da Universidade Aberta e do ISCTE - Instituto Universitário de Lisboa.

Os dois investigadores analisaram a evolução dos jovens portugueses tendo em conta a sua formação e o impacto que essa teve nas suas oportunidades de emprego nas duas últimas décadas e as conclusões foram hoje divulgadas no estudo “A educação e os seus efeitos sobre as oportunidades dos jovens”.

Em 2021, a taxa de emprego dos jovens com idades entre os 25 e os 34 anos com formação universitária ou profissional era de 84%, já entre os jovens com ensino básico a taxa era de 69,6%.

A diferença de 14,4 pontos percentuais é praticamente o dobro da registada no início do século: Em 2001, o emprego dos jovens com formação superior era de 90,7% e a dos jovens com o ensino básico de 82,9%.

Esta realidade acompanha a tendência europeia que também aumentou mais de seis pontos a favor dos jovens com ensino superior, segundo as conclusões do relatório, que faz parte do dossier Jovens, Oportunidades e Futuro, do Observatório Social da Fundação ”la Caixa”.

Pedro Abrantes sublinha que o nível educativo dos jovens é um fator cada vez mais decisivo para as suas oportunidades no mercado de trabalho e que continua “a ser observada em 2022 e 2023”, segundo dados publicados este ano.

Além disso, acrescentou, esta “é uma tendência mais forte entre as raparigas: A desigualdade entre homens e mulheres aumentou para as jovens com baixos níveis de escolaridade, mas quase desapareceu entre quem tem formação superior”.

Também numa comparação entre os jovens com formação superior e os que concluíram apenas o ensino secundário, os investigadores verificaram igualmente um aumento do diferencial da taxa de emprego em mais de 6 pontos a favor dos primeiros.

Baseando-se nos dados divulgados este mês pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), Pedro Abrantes conclui que “a tendência observada neste estudo se mantém, ou seja, as taxas de emprego têm vindo a aumentar para os jovens com ensino superior ou com cursos profissionais de nível secundário, mas não para aqueles que não têm o ensino secundário ou têm apenas o diploma do 12.º feito num curso científico-humanístico”.

Outra das tendências sublinhadas no estudo é o aumento de escolaridade dos portugueses.

“Registaram-se progressos significativos. No entanto, uma grande percentagem de jovens abandona o sistema educativo sem obter sequer um diploma do ensino secundário, encontrando-se atualmente em situações de vulnerabilidade e de risco de exclusão mais acentuadas do que no passado. Para além da idade, existem outras variáveis como a classe social, o género e a origem territorial”, salientou por seu turno a coautora do relatório e investigadora da Universidade do Porto, Lígia Ferro.

Os jovens que abandonam a escola precocemente “encontram-se hoje em situações de vulnerabilidade e de risco de exclusão mais acentuadas do que no passado”, acrescentou a investigadora.