O puma batizado pela sua coleira de rastreamento, surpreendeu ao superar desafios urbanos e passar a maior parte da sua vida nas colinas de Hollywood, tão próximo dos seus habitantes quanto qualquer outra celebridade.

“Os pumas são uma das muitas espécies ameaçadas pela expansão urbana”, disse Andy Blue, do Ramona Wildlife Center da San Diego Humane Society.

“Estes animais são nativos destas áreas, vivem aqui desde sempre e agora estamos a construir casas e estruturas nas suas propriedades. A interação é inevitável”.

Esta proximidade começa a caracterizar cidades como Los Angeles, onde ver coiotes nas ruas se tornou tão comum para os recém-chegados quanto ver grandes cartazes ou ecrãs luminosos.

Essa mudança também produziu um processo lento mas constante de sensibilização sobre o impacto do desenvolvimento urbano sobre os animais e sobre como preservar o que resta.

"Pode desaparecer"

A caça, o uso de raticidas, as colisões com veículos e o aumento de incêndios e inundações, consequência da mudança climática acelerada pela ação humana, são as principais ameaças à vida selvagem na Califórnia, explicou Blue.

Uma das ações mais ambiciosas nesse sentido é a construção do corredor de animais Wallis Annenberg, nos arredores de Los Angeles.

A primeira fase do projeto será lançada em 2025. A área estende-se sobre as dez faixas da Rodovia 101, uma das vias arteriais mais movimentadas do sul da Califórnia.

O corredor, uma espécie de fenda ecológica orçamentada em 80 milhões de dólares, será o maior do género no mundo e beneficiará espécies nativas obrigadas a enfrentar uma rodovia que regista mais de 300 mil passagens diárias.

Gill destacou que isso ajudará até mesmo pássaros pequenos como os "wrentit" nativos (Chamaea fasciata), “que são tão pequeninos que as correntes de vento geradas pela rodovia os impedem de atravessar”.

Conflito

A procura por este tipo de iniciativa é evidente no Ramona Wildlife Center.

“Um a dois pumas são atropelados por carros semanalmente na Califórnia, e é a principal causa de morte de pumas no estado”, disse Andy Blue.

“Todo animal que chega aqui está doente, órfão ou ferido”, acrescentou o porta-voz do centro que recebe de tudo, desde guaxinins a ursos.

“E pode ser porque a mãe foi atropelada por um carro, ou os enormes incêndios florestais no sul da Califórnia separaram as crias dos pais, ou as enchentes causadas pelas chuvas que tivemos alguns anos atrás.”

Para Blue, reeducar a comunidade sobre como lidar com os animais é fundamental para garantir a convivência.

“Não precisamos de muito para facilitar a vida deles”, concorda Johanna Turner, fotógrafa da vida selvagem que instalou inúmeras câmeras em vários lugares nos arredores de Los Angeles para fotografar animais no seu habitat.

“Eu só quero que as pessoas saibam o quão sortudas são por terem essa natureza selvagem”, disse numa uma colina próxima com vista para o mar de luzes de Los Angeles. "E pode desaparecer. Pode acabar muito rápido."

“Estamos tão habituados a histórias trágicas sobre a vida selvagem, e com desistir e dizer ‘isto é uma cidade, simplesmente não pode estar aqui’”, refletiu Turner. "P-22 nos mostrou que isso [a "convivência" com os animais] pode ser feito."