O debate entre Biden e Trump pode ser resumido da seguinte forma: o primeiro tentará provar que não é um velho senil e o segundo que não é um déspota temperamental.

A CNN exibirá o encontro de uma hora e meia excecionalmente cedo no calendário eleitoral, já que os candidatos à presidência normalmente esperam a nomeação oficial nas convenções nacionais dos seus respetivos partidos — o que vai acontecer para os republicanos em julho e para os democratas em agosto — para debater.

Mas as eleições de novembro, que segundo as sondagens serão muito acirradas, são fora do comum. Os adversários são os dois candidatos mais velhos da história e um presidente contra um antecessor que nunca reconheceu a derrota em 2020 e também foi considerado culpado de falsificar documentação contabilística num caso de pagamentos ocultos a uma atriz pornográfica.

"A grande questão é qual parte do público (além dos fãs de política) prestará atenção a um debate tão cedo", disse Donald Nieman, analista político e professor de história na Universidade de Binghamton, no estado de Nova Iorque.

O aborto, o estado da democracia e os conflitos além das fronteiras, como as guerras na Ucrânia e entre Israel e o grupo palestiniano Hamas, são questões que preocupam os eleitores.

Mas o que mais preocupa o eleitorado, segundo algumas sondagens, é a inflação, a segurança na fronteira com o México e o fluxo de migrantes, que Trump promete cortar pela raiz com deportações em massa se voltar à Casa Branca, porque acredita que eles "envenenam o sangue" do país.

Os dois homens, que expressam forte animosidade política e pessoal, preparam-se de formas diferentes para este primeiro confronto.

O presidente democrata, de 81 anos, partiu para a residência rural de Camp David para se preparar para o debate, que ocorrerá sem público e com normas rigorosas. O microfone do candidato será cortado quando não for a sua vez de falar e as respostas serão cronometradas. Trump encerrará o debate.

Se as regras forem respeitadas, será evitada a tensão do último debate entre eles em 2020, quando Biden deixou escapar: "Queres calar a boca?", enquanto Trump o interrompia continuamente.

O milionário republicano de 78 anos continua com os seus comícios, sendo que a sua equipa afirma que ele não precisa de preparar-se para debater.

Os dois políticos tentarão convencer os eleitores indecisos, cujos votos serão determinantes em alguns estados.

"O ponto fraco de Trump é a sua retórica extremista", afirma Kathleen Hall Jamieson, professora de Comunicação na Universidade da Pensilvânia.

Biden diz ser o último bastião da democracia americana, contra um rival acusado em vários processos criminais e que declarou ao canal Fox News que atuará como "ditador" por um dia para "fechar a fronteira" com o México caso ganhe as eleições.

O democrata tentará tocar na questão do direito ao aborto, sobre a qual o magnata republicano tem uma posição ambígua.

Mas Biden terá de convencer não só no conteúdo, como na forma também. Nos seus comícios, Trump costuma fazer pouco das suas gafes e da sua falta de jeito ao caminhar. "O ponto fraco de Biden é se ele tem a acuidade mental necessária para o cargo", diz Kathleen Hall Jamieson.

Trump sugeriu publicamente que o seu rival poderá estar "dopado" durante o duelo de quinta-feira. O republicano é apenas três anos mais novo e faz discursos difíceis de compreender, mas, segundo as sondagens, os americanos estão mais preocupados com o estado físico e intelectual do democrata.

"Trump sairia beneficiado se seguisse um roteiro, destacando as fraquezas de Biden em relação à inflação e à imigração e atenuando a linguagem enfática", disse Nieman.

O republicano garante que não "subestima" o democrata. Em 2020, porém, a atitude extremamente agressiva do ex-magnata do mercado imobiliário voltou-se contra ele.