De acordo com o The Guardian, alguns especialistas afirmam que o Everest, que tem, atualmente, 8.849 metros de altura, está a crescer, gradualmente, como resultado da erosão causada pelos rios vizinhos.

“O nosso estudo demonstra que até mesmso o pico mais alto do mundo está sujeito a processos geológicos contínuos que podem afetar a sua altura de forma mensurável em escalas de tempo geológicas relativamente curtas”, disse Jingen Dai, coautor de um estudo da Universidade de Geociências, em Pequim, na China.

Dai observou que o Everest é uma espécie de anomalia, sendo que o seu pico é cerca de 250 metros mais alto do que as outras montanhas mais altas dos Himalaias. Além disso, os dados sugeriram uma discrepância entre as taxas de elevação de longo e curto prazo do Everest.

“Isso levantou a questão sobre se havia um mecanismo subjacente que tornava a elevação anómala do Everest ainda maior”, explicou.

Num artigo publicado na revista Nature Geoscience, o investigador e os seus colegas contaram que criaram modelos de computador para explorar a evolução das redes fluviais nos Himalaias.

Os resultados demonstraram que, há cerca de 89.000 anos, o curso superior do rio Arun, que fica a norte do Everest – e que teria fluído para o leste no planalto tibetano – fundiu-se com o seu curso inferior, como resultado da erosão deste último para o norte. Desta forma, toda a extensão do rio Arun tornou-se parte do sistema do rio Kosi.

A equipa sugeriu, então, que esta alteração resultou num aumento da erosão do rio perto do Everest e na formação do desfiladeiro do rio Arun.

“Naquela época haveria uma enorme quantidade de água adicional a fluir pelo rio Arun, que terá sido capaz de transportar mais sedimentos e erodir mais leito rochoso, além de cortar o fundo do vale”, disse Matthew Fox, coautor da pesquisa, da Universidade de Londres.

De acordo com os estudiosos, a redução gradual do peso na crosta terrestre levou a uma elevação da terra ao redor do Monte Everest, um processo conhecido como recuperação isostática .

O grupo estima que o processo esteja a impulsionar o Everest em cerca de 0,16 mm a 0,53 mm por ano, uma elevação semelhante aos seus picos vizinhos Lhotse e Makalu, o quarto e o quinto picos mais altos do mundo, respetivamente.

“Este efeito não continuará indefinidamente”, disse Dai. “O processo continuará até que o sistema fluvial atinja um novo estado de equilíbrio”, acrescentou.

Já Mikaël Attal, professor na Universidade de Edimburgo, que não participou no estudo, disse que, embora a "captura de rios" fosse um fenómeno bem conhecido, era, relativamente, raro.

“O que é único neste estudo é a demonstração de que a erosão resultante da captura de rios pode levar a uma resposta tão dramática na superfície da Terra, com uma área do tamanho de Londres a subir algumas dezenas de metros em dezenas de milhares de anos”, disse.

No entanto, Attal observa que o fenómeno explica apenas uma fração da altura incomum dos picos mais altos dos Himalaias. Fox também observou que outros mecanismos, como as forças tectónicas associadas a terremotos e perda de glaciares, também podem causar a elevação.

Por sua vez, Elizabeth Dingle, da Universidade de Durham, afirmou que os resultados do estudo podem ser importantes para além do Everest.

“Há outras capturas de rios que ocorreram nos Himalaias”, disse. “Seria interessante saber se há efeitos semelhantes noutros lugares ou noutras cadeias de montanhas 'tectónicamente' ativas de forma mais ampla”, referiu.