O desenvolvimento do adolescente é uma fase marcante no individuo com mudanças físicas, emocionais e cognitivas, traz impacto significativo na construção da autonomia e comunicação com a família.

Na adolescência o desenvolvimento do pensamento abstrato e critico permite que os jovens reformulem as suas opiniões e tomada de decisões, questionando valores e regras, na intensa construção da sua identidade. Em simultâneo e de forma gradual criam um movimento de independência emocional em busca de autorregulação das suas emoções e necessidade de privacidade e individualidade.

E é neste caminho que começa a acontecer uma mudança considerável na comunicação entre pais e adolescentes.

É essencial que todo o sistema familiar tenha em conta este processo e tenha a possibilidade de fazer os ajustes necessários para a integração destas mudanças. Nesta etapa evolutiva a família tem a ação de refletir acerca das fronteiras familiares para melhor integrar a dinâmica da necessidade de independência dos filhos.

Vários estudos indicam que a autoestima do adolescente está profundamente relacionada com a comunicação familiar. A forma como a comunicação acontece na família influencia a forma como o adolescente se vê e se valoriza. Quando a família encoraja e valoriza, os adolescentes sentem-se aceites e valorizados. É muito importante o elogio, o reconhecimento de esforço, de conquistas, assim como a validação de emoções. 

O diálogo sem receio de critica ou repreensão, a expressão de carinho, amor, aceitação vão reforçar a autoestima do adolescente. As críticas constantes ou comparações negativas afeta a autoestima do adolescente. A critica deve acontecer com o intuito de construção para o apoio no crescimento e não o desencorajamento.

Nas famílias em que estas condições estejam presentes é provável que os adolescentes tendam a manifestar os seus sentimentos com maior facilidade, resultando numa comunicação mais profunda, disponível e afetiva. Numa família com fronteiras mais rígidas e maior dificuldade na compreensão das mudanças dos filhos na adolescência, a comunicação tenderá a existir com maior conflito ou menos transparência. A comunicação pouco eficaz na relação entre pais e adolescentes pode ter um impacto sério, com real dano na construção da autoestima do adolescente. O sentimento constante de julgamento ou critica compromete a relação saudável com o próprio e com os outros

Com o jovem a comunicação deverá ser mais colaborativa, contributiva, com atenção pela autonomia do adolescente. A procura de independência pode levar a alguns conflitos (pais/filhos), nomeadamente no que diz respeito a questões de limites e expectativas, porém a gestão da necessidade de controlo e privacidade, com o equilíbrio fundamental entre o desejo de proteção e de confiança contribui para que todas as partes possam sentir-se num rumo ajustado ou pelo menos com menor possibilidade de contrariedades.

Com o conhecimento das necessidades do adolescente o desafio desta etapa pode também representar uma oportunidade de crescimento saudável na relação pais/filhos. A comunicação com o adolescente oferece a chance de fortalecer o relacionamento entre pais e filhos de modo saudável, com especial relevo para o apoio na transição do adolescente para a idade adulta.

Este fortalecimento da ligação familiar com diálogos abertos e honestos, com a promoção da confiança mútua pode levar a uma comunicação e vivência de valores com a possibilidade de os adolescentes internalizarem esses valores, enquanto constroem o seu próprio Mundo. Conversar sobre emoções e experienciar emoções, permite a edificação de habilidades emocionais imprescindíveis para o seu desenvolvimento.

Os momentos de conflitos podem trazer oportunidades de construção de competências para a resolução de problemas, permitir lidar com as vivências de maneira saudável e responsável. 

Nesta fase de crescimento em que os adolescentes procuram a sua independência e a formação da sua identidade, os conflitos e as consequências das suas escolhas podem ser formas de exploração da sua individualidade, para além de permitir aprender habilidades preciosas de resolução de problemas, como a negociação e o compromisso. Nessa aprendizagem caminhar no processo de conhecimento permite um amadurecimento emocional, com o desenvolvimento da resiliência e da autorregulação das emoções, e consequentemente colocar na bagagem destes adolescentes competências como a assertividade, a empatia e uma perceção mais próxima do real na gestão de conflitos e necessidades na idade adulta.

Os conflitos na adolescência podem ser muito desafiadores, mas podem ter a potencialidade de instaurar benefícios significativos e facilitadores se considerarmos uma abordagem construtiva.