… uma mala para três dias; um avio na farmácia; um recado para os pais; uma máquina de roupa; compras no supermercado, precisava de lâminas de barbear; um chá; um jantar-surpresa; uma arrumação profunda ao meu guarda-roupa; o favor (!) de levar os meus sapatos ao sapateiro; o IRS; as despesas da conversa com a minha sogra; o favor de pedir explicações à contabilista; o enorme préstimo de ir à reunião de condomínio; o jeito (!) de levar os miúdos à escola e de os recuperar ao final do dia; todas as limpezas da casa; uma triagem às peúgas; uma canja quando adoeci; o favor (!) de fornecer o frigorífico de cerveja; todas as marcações de consultas e de exames dos últimos anos; companhia quando fui a uma consulta ou exame; todos os caixotes quando mudámos de casa; contas para sabermos a quanto andávamos. E por aí fora. 

Podemos gozar com o ministro porque é ministro, mas a pergunta permanece: quem nunca?

Fica mal ao senhor ministro dizer que a mulher lhe fez a mala? Se fosse uma senhora ministra seria o quê? Progresso, evolução? Há momentos na luta das mulheres que nos diminuem. Confundem as coisas: feminismo não é atacar comportamentos sem contexto, só por ser fácil, é uma causa séria que se faz com mulheres e homens, lado a lado. Acredito que a mulher do senhor ministro o tenha visto aflito e tenha ajudado. Nada mais humano e banal num casamento, que a malta não saiba isto é que me perturba. De resto, o senhor teria feito melhor em não dizer nada, sim, teria sido poupado. E a mulher dele também. 

Se me perguntarem se as mulheres trabalham demasiado, não tenho a menor dúvida. Existem muitas mulheres que são cuidadoras dos maridos quase num registo de infantilidade assumido. Nada disso é novo ou recomendável. O feminismo também combate essa realidade que sobrecarrega as mulheres, mas aqui, francamente, a questão não era essa.