Com lugar de destaque nas bandeiras erguidas pelos fiéis adeptos dos Reds, Paisley é admirado por todos os adeptos do Liverpool, sejam eles de que gerações forem. Tendo servido o clube durante mais de 40 anos, sem contarmos com os anos passados como diretor do clube ou conselheiro, Paisley é figura essencial na construção do histórico Liverpool e um dos grandes responsáveis pelo reerguer do clube após a segunda Guerra Mundial.

O génio humilde

Como jogador Paisley era admirado e respeitado pelos adeptos. Ainda assim a sua passagem pelo Liverpool como jogador acabaria por ser colocada para um canto da memória de todos. Para tal terá contribuído o facto dos 15 anos em que vestiu de vermelho, não só coincidiram com um dos períodos menos brilhantes da história do Liverpool, como também com a segunda Grande Guerra, onde aliás, Bob Paisley participara, juntando-se às forças aliadas. Ainda assim, em 1946/47 o Liverpool tornar-se-ia campeão inglês, com Paisley a ocupar a posição de defesa esquerdo e assumindo-se como peça importante da equipa.

Terminada a carreira como futebolista, Paisley tornar-se-ia massagista da equipa. Segundo o mesmo, sempre lhe interessara a fisioterapia e psicologia. As pancadas que levara durante os anos em que calçou as chuteiras, fizeram-no optar pela primeira. Já integrado na equipa técnica, como fisioterapeuta auto-didata, e também como treinador adjunto reserva, sempre que um do adjuntos faltava. Paisley tornar-se-ia mesmo num dos treinadores adjuntos de Bill Shankly, também ele um dos mais lendários treinadores a passar pelo Liverpool e por Inglaterra.

Bob Paisley tornava-se assim um elemento crucial dos Boot Room Boys - nome dado aos elementos da equipa técnica que, sob a alçada de Shankly, se reuniam na sala onde eram guardadas as botas dos jogadores, e que se tornaria numa das mais fundamentais peças do puzzle da história do Liverpool FC. Bob Paisley seria, com alguma naturalidade, convidado a substituir Bill Shankly, quando este decidira colocar termo à sua carreira como treinador principal dos Reds.

O que viria de seguida ninguém, nos seus mais ambiciosos sonhos, poderia imaginar.

As conquistas do génio silencioso

Com vinte títulos em apenas nove temporadas, o treinador inglês ficaria definitivamente na memória de todos ao protagonizar o período mais rico da história dos Reds. Se os números por si só já são impressionantes, a qualidade dos troféus conquistados pelas equipas treinadas por Paisley é ainda maior.

Dos 20 títulos conquistados durante os nove anos como treinador principal, seis foram de campeão inglês, na altura chamada English Division One, numa era em que o Ipswich Town de Sir. Bobby Robson e o Nottingham Forest de Brian Clough eram dois dos principais rivais, mas onde o Liverpool acabaria por ser, normalmente, superior a todos os adversários diretos. Além dos seis títulos de campeão, uns impressionantes três títulos de campeão europeu são a cereja no topo do bolo no currículo de Paisley.

A complementar as principais conquistas, estão seis Supertaças inglesas, três Taças da Liga, uma Taça UEFA e uma Supertaça Europeia.

A carreira como treinador do Liverpool chegaria ao fim em 1983, ao mesmo tempo que a sua última conquista do campeonato inglês. Com ela, e com a reforma, viria nesse mesmo ano a condecoração de Oficial da Ordem do Império Britânico, concedida pela rainha de Inglaterra reconhecendo a importância e contribuição ao desporto, à cidade e ao país.

Carisma

Além da genialidade tática, Bob Paisley tinha também como grande arma, o carisma. Dotado de um à vontade e de um sentido de humor que faziam dele um homem não só confortável na sua pele, como na pele de líder da equipa. Eis algumas das frases mais marcantes do técnico durante o seu reinado como mais bem-sucedido treinador inglês.

Sobre ser ouvido pelos demais: “Barafustar delirantemente não nos leva a lado nenhum no futebol. Se quisermos ser ouvidos, temos que falar silenciosamente.”

Sobre os altos e baixos do Liverpool: “Eu também aqui estive durante os maus momentos - um ano acabámos em segundo lugar”

Sobre tática: “O mais importante não é a bola longa ou a bola curta, é a bola certa.”

Sobre a imprensa: “Os jornais lembram-me o filme 'O Tubarão'. Consomem tudo o que tens e voltam no dia seguinte para mais.”

Sobre ganhar a Taça dos Campeões Europeus em Roma em 1977 frente à equipa alemã Borussia Mönchengladbach: “Esta é a segunda vez que ganho aos alemães aqui em Roma. A primeira vez foi em 1944, quando entrei pela cidade a conduzir um tanque e libertámos os romanos.”

Sobre a arte de marcar golos: “Se estiveres dentro da área e não souberes o que fazer com a bola, mete a bola dentro da baliza e mais tarde vem falar comigo para discutirmos as opções.”

Esta semana na Premier League

Este fim de semana trar-nos-á a quarta ronda da Taça de Inglaterra, a mítica FA Cup, depois de durante esta semana ter-se apurado os finalistas de outra competição interna, a Taça da Liga (EFL Cup). A Premier League volta a meio da semana que vem, na terça e quarta-feira, dias 29 e 30 de janeiro.