O procurador especializado em crimes contra a humanidade Ricardo Perciballe informou que a identidade foi confirmada pelo laboratório da Equipa Argentina de Antropologia Forense, onde foram analisadas amostras de ADN.

Segundo o procurador, Arigón foi privado ilegitimamente de liberdade, torturado e desapareceu "pelo simples fato de resistir à ditadura", e disse acreditar que a descoberta dos seus restos mortais permitirá dar "um pouco de paz" à família da vítima e a toda a sociedade.

Funcionário de livraria, sindicalista e membro do Partido Comunista, Arigón tinha 51 anos quando foi levado de casa, a 14 de junho de 1977, em Montevidéu, por membros das forças conjuntas, numa ação testemunhada pela sua mulher e filhas. Segundo testemunhas, foi vítima de tortura no centro de detenção clandestino La Tablada.

Os restos de Arigón foram encontrados no último dia 30 de julho, no Batalhão 14 do Exército em Toledo, durante escavações em busca de desaparecidos durante o regime militar. A coordenadora do Grupo de Investigação em Antropologia Forense (Giaf), Alicia Lusiardo, destacou que não se pôde determinar a causa da morte, mas que "traumatismos indicam que houve violência".

Os restos de Arigón estavam no mesmo prédio onde já haviam sido encontrados os de outros três desaparecidos durante a ditadura uruguaia.

O diretor do Instituto Nacional de Direitos Humanos, Wilder Tayler, referiu-se ao Batalhão 14 como “um cemitério secreto de desaparecidos”, e disse que o Giaf prossegue as escavações no local e noutros pontos.

Existem registos de 197 desaparecidos em ações do Estado uruguaio entre 1968 e 1985, período que inclui a violência política anterior à ditadura. A maioria foi presa na Argentina, devido à colaboração entre os regimes de fato do Cone Sul. Dos 30 desaparecidos já identificados, oito foram encontrados no Uruguai.

Segundo Perciballe, pela causa que investiga o desaparecimento de Arigón foram processados com prisão e aguardam a condenação um policia e três militares, um dos quais já morreu.