O ANC conquistou apenas 159 das 400 cadeiras nas eleições de quarta-feira, segundo os resultados oficiais.

Este é o pior resultado para o partido que chegou ao poder em 1994 com o líder emblemático da luta contra a segregação racial do apartheid, Nelson Mandela, e que governa com maioria absoluta desde então.

Numa declaração emitida depois de conhecer os resultados, Ramaphosa instou todos os partidos a respeitarem o resultado e a trabalharem juntos.

"O Nosso povo pronunciou-se, gostemos ou não", disse o mandatário que aspira permanecer no cargo.

"Como líderes dos partidos políticos [...] devemos respeitar seus desejos", acrescentou Ramaphosa,  numa mensagem aparentemente direcionada ao ex-presidente Jacob Zuma, que disputou as legislativas com um novo partido.

Zuma, ex-dirigente do ANC, assinalou que tem a intenção de contestar os resultados.

O novo Parlamento deverá reunir-se em duas semanas com a tarefa de eleger um presidente para formar um governo.

"O ANC está empenhado em formar um governo que reflita a vontade do povo, que seja estável e capaz de governar eficazmente", disse o secretário-geral do partido, Fikile Mbalula, numa conferencia de imprensa.

O partido deve negociar um governo de coligação ou pelo menos convencer outros partidos a apoiarem a reeleição de Ramaphosa no Parlamento para lhe permitir formar um governo em minoria.

Mbalula indicou que as discussões seriam realizadas internamente e com outros grupos "nos próximos dias".

Aproximações improváveis

A Aliança Democrática (DA), cuja agenda neoliberal se opõe às tradições de esquerda do ANC, ficou em segundo lugar com 87 deputados.

Helen Zille, membro do comite diretor da DA, afirmou que todas as opções estavam sobre a mesa, incluindo permitir que o ANC governasse sozinho, em minoria.

De seguida, com 49 deputados, ficou o partido Umkhonto We Sizwe (MK), criado há apenas seis meses por Zuma.

Em quarto lugar ficaram os Lutadores pela Liberdade Econômica (EFF), de esquerda radical, de Julius Malema, ex-militante do ANC.

Alguns observadores sugeriram que, como ex-membros do ANC, Malema e Zuma seriam parceiros naturais da coligação governante.

No entanto, outros analistas consideram que as suas exigências seriam difíceis de satisfazer e não vêem de forma fácil uma reaproximação entre Ramaphosa e Zuma, que teve que renunciar à Presidência em 2018 devido a acusações de corrupção.

O MK afirmou que não negociará com o ANC enquanto Ramaphosa for o seu líder.

Questionado sobre a razão pela qual Zuma não esteve presente no anúncio dos resultados deste domingo, o porta-voz do MK, Nhlamulo Ndhlela, disse que comparecer seria o equivalente a "endossar uma declaração ilegal".

Apesar das dificuldades, os Estados Unidos louvaram o processo. O porta-voz do Departamento de Estado, Matthew Miller, deu os parabéns nas redes sociais aos sul-africanos por "servirem como um estandarte da democracia em África e no mundo".

O ANC mantém a lealdade de muitos eleitores pelo seu papel na queda do apartheid.

No entanto, alguns altos funcionários do partido envolveram-se em escândalos de corrupção, à medida que a economia mais industrializada do continente definhava e os números da criminalidade e do desemprego atingiam máximos históricos.