O anfitrião será o presidente americano, o democrata Joe Biden, que luta pela sua sobrevivência política depois de um debate desastroso contra o republicano, um cético da NATO.

Biden receberá os líderes da aliança transatlântica de 32 nações durante três dias a partir de terça-feira. Convidou também os líderes da Austrália, do Japão, da Nova Zelândia e da Coreia do Sul, um sinal do papel crescente da NATO na Ásia face a uma China em ascensão.

Mas a estrela da cimeira será o presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, cujo país não é membro da aliança.

A NATO, fundada em 1949 para fornecer defesa coletiva contra a União Soviética, retornou à sua missão original quando os aliados se uniram em defesa da Ucrânia após esta ter sido invadida pela Rússia em 2022.

A Ucrânia contou com a ajuda da maior parte do Ocidente e esperava derrotar a Rússia em pouco tempo. Mas as tropas russas continuaram a avançar no leste do país.

Um líder europeu reconheceu à AFP que a atmosfera antes da cimeira da NATO tornou-se "sombria".

"Esta cimeira será muito diferente dos planos iniciais porque ocorre num momento crítico para a segurança europeia", disse a fonte, que pediu anonimato. "A Rússia está hoje numa situação muito confortável. Acham que podem apenas esperar", afirmou.

A sombra de Trump

Max Bergmann, diretor do programa Europa, Rússia e Eurásia do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais, acredita que a cimeira ocorre "no melhor e no pior dos momentos".

"O melhor dos momentos, no sentido em que a Aliança sabe o que está em causa: dissuadir a Rússia. Os membros da Aliança estão a gastar mais", disse ele.

"Mas também estamos no pior dos momentos – obviamente por causa da guerra na Ucrânia, dos desafios do aumento dos gastos europeus com a defesa, das preocupações com a confiabilidade dos Estados Unidos", explicou.

Trump, que no passado manifestou admiração pelo presidente russo, Vladimir Putin, critica há muito tempo a NATO por a considerar um fardo injusto para os Estados Unidos, que gastam muito mais do que qualquer outro aliado neste mecanismo.

O republicano, que tem uma pequena vantagem em relação a Biden nas sondagens, garante que pode parar a guerra, e os seus assessores levantaram a possibilidade de condicionar a futura ajuda dos EUA à entrada da Ucrânia em negociações para ceder território.

França, onde o presidente Emmanuel Macron considerou enviar tropas para a Ucrânia, tem agora o seu próprio cenário político para resolver, com difíceis discussões entre os partidos para nomear um novo governo, depois de a esquerda ter arrancado inesperadamente a vitória da extrema direita nas eleições legislativas, que terminaram sem maioria absoluta.

O primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, visitou Putin dias depois do seu país assumir a presidência rotativa da UE e pouco antes da cimeira da NATO.

Esta cimeira marcará também a estreia diplomática do primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, após a esmagadora vitória eleitoral do Partido Trabalhista.

Uma saída para a Ucrânia

O secretário-geral em fim de mandato da NATO, Jens Stoltenberg, liderou esforços para colocar a própria aliança, e não os Estados Unidos, à frente da coordenação da ajuda militar à Ucrânia.

Stoltenberg também quer que os aliados se comprometam a fornecer pelo menos 40 mil milhões de euros por ano em ajuda militar à Ucrânia para travar a guerra contra a Rússia.

Os diplomatas acreditam que se trata de uma antecipação de uma possível vitória eleitoral de Trump, mas também estão cientes de que o apoio à Ucrânia dificilmente durará sem os Estados Unidos, que sob o governo Biden aprovaram 175 mil milhões de dólares para Kiev em ajuda militar e de outro tipo.

A reunião da cimeira acontece após a incorporação de dois países na NATO: Finlândia e Suécia.

Segundo fontes diplomáticas, os Estados Unidos querem uma cimeira sem drama e procuram evitar as recriminações da reunião realizada no ano passado na Lituânia, onde Zelensky não conseguiu convencer os membros sobre a adesão de seu país à aliança.

As autoridades ucranianas reconhecem que não há hipótese de Washington mudar de ideias.

Biden e o chanceler alemão Olaf Scholz opõem-se porque acreditam que admitir um país que está em guerra equivale a que a própria NATO enfrente uma Rússia com armas nucleares.