Daniela Martins pediu desculpa por uma frase "falsa e infeliz que disse" e pela qual considera que os portugueses a conhecem. Refere-se ao facto de ter dito que conhecia o Presidente da República, numa entrevista onde considerou que foi uma "armadilha".

"Em uma conversa supostamente informal, me vangloriei, afirmei ter havido uma rede de influências em que os médicos começaram a receber ordem de cima. Sobre isso, só posso pedir imensa desculpa a toda a gente de Portugal. Errei. E errei porque disse algo que não era verdade, por vaidade naquele momento."

Daniela Martins sublinhou que "o contexto dessa gravação também é importante" e explicou que "contactada através do Instagram das filhas, pela TVI, interessada em alegadamente fazer uma matéria sobre a evolução da medicação".

"Eu concedi essa entrevista para falar dessa evolução. Mas depois percebi que a vida havia caído numa armadilha, onde fui gravada com uma câmara escondida em minha casa pela pessoa que se apresentou como técnico de montagem de equipamentos. Essa história que foi tão explorada criou a imagem que as pessoas têm da minha família hoje em Portugal." 

A mãe de Lorena e Maitê começou por descrever o processo em que teve conhecimento da "doença mortal" das filhas e o momento em que enviou emails para o Hospital Santa Maria. "Era uma esperança real mas muito distante por custar dois milhões de dólares e no meu caso eram quatro milhões" - afirmou.

A inquirida leu uma intervenção inicial, onde referiu que as filhas tiveram nacionalidade portuguesa em 2019. O caso das gémeas lusobrasileiras tratadas em Portugal diz respeito à administração do medicamento mais caro do mundo.

Daniela Martins disse que não tem "conhecimento" do email para a nora de Marcelo, mas André Ventura mostra-lhe o documento.

“Em menos de três meses de internamento foram para o bloco cirúrgico 10 vezes. Não podem nem sequer imaginar o momento que eu e a minha família passámos”, afirmou.

Visivelmente emocionada, a mãe das duas meninas agora com cinco anos indicou que aquele foi “de longe o pior momento” da sua vida.

Daniela Martins referiu que foi nessa altura que teve conhecimento do medicamento Zolgensma e que, como não tinha possibilidade financeira para pagar este tratamento, começou uma angariação de fundos pela internet no Brasil, contactou o laboratório responsável e pediu o visto americano, uma vez que também era aplicado naquele país.

“Nessa mesma época, começámos o envio para médicos e hospitais aqui em Portugal”, disse, indicando que foi feito “um email de apresentação padrão” com informação e o relatório médico das meninas e foi enviado por si “e por pessoas que disseram que ajudariam”.

A mãe das crianças disse também desconhecer que poder ter-se dirigido com as crianças a um serviço de urgência e que dessa forma as “meninas teriam acesso ao SNS” e recusou que tenham “passado à frente” de outras.

A mãe das crianças mostrou-se ainda “imensamente grata ao SNS” e ao Governo português e disse que fez “tudo para garantir o melhor” para as suas filhas.

As audições da comissão de inquérito sobre o caso das gémeas tratadas no Hospital de Santa Maria com um medicamento que tem um custo de dois milhões de euros por pessoa, arrancaram segunda-feira, com o depoimento do ex-secretário de Estado Adjunto e da Saúde António Lacerda Sales.