Ficou conhecido por tentar soar os alarmes quanto ao coronavírus e mais tarde padeceu dessa mesma doença. Li Wenliang, segundo reporta o Global Times, jornal controlado pelo estado chinês, morreu às 2:58 de sexta-feira na China (18:58 em Lisboa), mas a notícia do seu falecimento já tinha sido dada antes de tempo.

As primeiras notícias desta quinta-feira sobre o médico chinês que tentou alertar outros médicos sobre o coronavírus, apontavam que o médico tinha morrido após contrair a infecção em Wuhan.

Uma das fontes a avançar com a informação foi justamente o Global Times. "O médico chinês Li Wenliang, um dos oito denunciantes que tentaram alertar outros médicos sobre o coronavírus mas foram repreendidos pela polícia local, morreu de coronavírus na quinta-feira em Wuhan", podia ler-se no tweet publicado. 

A notícia foi então divulgada por outros meios internacionais como a BBC ou The Guardian. Este último, explica agora, diz que o Global Times, jornal controlado pelo Partido Comunista Chinês, avançou inicialmente com a notícia de que o médico estava morto, mas apagou o tweet com a mesma. E disse que, afinal, estava vivo, mas em estado crítico.

Paralelamente, o Hospital Central de Wuhan, onde estava internado e a recuperar de uma paragem cardíaca, veio negar a morte do oftalmologista em comunicado. "Durante a luta contra a epidemia viral, o nosso oftalmologista Li Wenliang foi, infelizmente, contagiado. Está em estado crítico e estamos a fazer o possível para o reanimar", pode ler-se.

Agora, o mesmo hospital confirmou a sua morte, numa curta nota de pesar na rede social Weibo: "Lamentamos profundamente e sofremos com a sua morte".

Li Wenliang terá enviado uma mensagem aos colegas médicos numa conversa de grupo a 30 de dezembro e dias depois foi convocado ao Departamento de Segurança Pública para assinar uma carta, em que era acusado de fazer "comentários falsos". Li Wenliang foi investigado por "espalhar boatos".

A China elevou hoje para 563 mortos e mais de 28 mil infetados o balanço do surto de pneumonia provocado por um novo coronavírus (2019-nCoV) detetado em dezembro passado, em Wuhan, capital da província de Hubei (centro), colocada sob quarentena.

Nas últimas 24 horas, registaram-se 73 mortes e 3.694 novos casos.

A primeira pessoa a morrer por causa do novo coronavírus fora da China foi um cidadão chinês nas Filipinas.

Além do território continental da China e das regiões chinesas de Macau e Hong Kong, há outros casos de infeção confirmados em mais de 20 países, o último novo caso identificado na Bélgica na terça-feira.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) declarou em 30 de janeiro uma situação de emergência de saúde pública de âmbito internacional, o que pressupõe a adoção de medidas de prevenção e coordenação à escala mundial.

Estas são as principais recomendações das autoridades de saúde à população

O surto do novo coronavírus detetado na China tem levado as autoridades de saúde a fazer recomendações genéricas à população para reduzir o risco de exposição e de transmissão da doença. Eis algumas das principais recomendações à população pela Organização Mundial da Saúde e pela Direção-geral da Saúde portuguesa:

- Lavagem frequente das mãos com detergente, sabão ou soluções à base de álcool;

- Ao tossir ou espirrar, fazê-lo não para as mãos, mas para o cotovelo ou para um lenço descartável que deve ser deitado fora de imediato;

- Evitar contacto próximo com quem tem febre ou tosse;

- Evitar contacto direito com animais vivos em mercados de áreas afetadas por surtos;

- Deve ser evitado o consumo de produtos de animais crus, sobretudo carne e ovos;

- Em Portugal, caso apresente sintomas de doença respiratória e tenha viajado de uma área afetada pelo novo coronavírus, as autoridades aconselham a que contacte a Saúde 24 (808 24 24 24). Caso se dirija a uma unidade de saúde deve informar de imediato o segurança ou o administrativo.

Combater a desinformação

A Organização Mundial da Saúde tem tentado também divulgar factos para combater a desinformação e mitos ligados ao novo coronavírus. Eis algumas dessas informações:

- É seguro receber cartas ou encomendas vindas da China, porque as análises feitas demonstram que o coronavírus não sobrevive muito tempo em objetos como envelopes ou pacotes;

- Não há qualquer indicação de que animais de estimação, como cães e gatos, possam ser infetados ou portadores do novo coronavírus. Mas deve lavar-se sempre as mãos após contacto direto com animais domésticos, porque protege contra outro tipo de doenças ou bactérias;

- Não há também prova científica de que o consumo de alho ajude a proteger contra o novo coronavírus;

- Usar e colocar óleo de sésamo não mata o novo coronavírus;

- As atuais vacinas disponíveis no mercado contra a pneumonia não previnem contra o coronavírus 2019-nCoV. Este novo vírus precisa de uma nova vacina que ainda não foi desenvolvida;

- Os antibióticos não servem para proteger ou tratar as infeções provocadas pelo coronavírus. Os antibióticos são usados para infeções bacterianas e não virais. Contudo, os doentes hospitalizados infetados com coronavírus poderão ter de receber antibióticos porque pode estar presente também uma infeção bacteriana;

- Pessoas de todas as idades podem ser afetadas pelo coronavírus. Contudo, pessoas mais velhas ou com doenças crónicas (como asma ou diabetes) parecem ser mais vulneráveis a ter doença grave quando infetadas.

Onde chegou o coronavírus?

CHINA

Mais de 28.000 pessoas foram infectadas na China continental. Pelo menos 563 delas morreram. Quase todas as mortes ocorreram na província de Hubei, local do surgimento do contágio e de onde Wuhan é a capital.

Uma pessoa também morreu em Hong Kong, onde pelo menos 21 casos foram registados.

Dez casos foram reportados em Macau.

Um caso no Tibete.

REGIÃO ÁSIA-PACÍFICO 

Leste Asiático

Coreia do Sul: 23 casos

Japão: 45 casos, 20 deles a bordo do cruzeiro Diamond Princess colocado em quarentena em Yokohama

Taiwan: 13 casos

Sudeste Asiático

Camboja: um caso

Malásia: 12 casos

Filipinas: três casos, entre eles um morto em Manila, um chinês de Wuhan, a primeira morte fora da China

Singapura: 28 casos

Tailândia: 25 casos

Vietname: dez casos

Sul da Ásia

Índia: três casos

Nepal: um caso

Sri Lanka: um caso

Austrália: 14 casos

AMÉRICA DO NORTE

Canadá: quatro casos

Estados Unidos: doze casos

EUROPA

Alemanha: doze casos

Bélgica: um caso

Espanha: um caso

Finlândia: um caso

França: seis casos

Itália: dois casos

Suécia: um caso

Reino Unido: três casos

Rússia: dois casos

MÉDIO ORIENTE

Emirados Árabes Unidos: cinco casos

[Notícia atualizada às 20:42]