A organização humanitária Médicos Sem Fronteiras (MSF) está a testar a deteção de cobras através de Inteligência Articial (IA) no Sudão do Sul, avança o The Guardian.

Com o novo software, que inclui um banco de dados com 380.000 fotografias de espécies venenosas, os profissionais procuram obter respostas mais rápidas para tratar pacientes vítimas de mordidas e evitar mortes pela demora no tempo de reação ou pela aplicação do tratamento errado.

Gabriel Alcoba, elemento da MSF, conta que "os primeiros resultados são promissores", uma vez que "a IA às vezes identifica cobras até melhor do que os especialistas".

“Lembro-me de uma época em que usávamos álbuns de fotografias para identificar cobras em hospitais da MSF. A equipa médica folheava as fotografias para descobrir qual tinha sido a cobra a morder o paciente”, acrescentou.

Segundo o médico, a precisão da nova ferramenta pode ainda ser melhorada com maior financiamento, pesquisa e fotografias de melhor qualidade.

“Frequentemente, os pacientes recebem o tratamento errado porque a cobra não é identificada corretamente ou o antiveneno valioso é desperdiçado para o tratamento de mordidas de cobras não venenosas, o que também pode causar efeitos colaterais sérios. O antiveneno é raro e extremamente caro, custando ao paciente entre um mês a um ano de ordenado”, afirma Alcoba.

A inovação está a ser testada por dois hospitais da organização no país, onde as pessoas são, constantemente, mordidas por cobras. Aliás, entre janeiro e julho deste ano, mais de 30o pacientes foram tratados nas instalações médicas da MSF espalhadas pelo Sudão do Sul.

Para facilitar a utilização do software por parte dos médicos, é recomendado que as fotografias às cobras sejam tiradas no momento em que a pessoa é mordida. Se por impossível, a equipa médica deve voltar ao local onde o paciente, que chegou até si, foi mordido para fotografar o réptil.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 5,4 milhões de pessoas são, anualmente, mordidas por cobras. Entre elas, até 2,7 milhões ficam gravemente doentes e 138.000 morrem após complicações.

A identificação do tipo de cobra é, por isso, crucial para garantir que os antivenenos raros e de alto valor são utilizados apenas em caso de necessidade.

David Williams, especialista em mordidas de cobras da OMS, explica que as mordidas podem fazer com que uma pessoa pare de respirar, além de causar insuficiência renal, danos nos tecidos e hemorragias fatais.

De acordo com Williams, as comunidades rurais são as mais afetadas, e muitas das 240.000 pessoas que ficam incapacitadas, devido às mordidas, são empurradas para a pobreza, uma vez que o valor do tratamento é, por norma, elevado.

A crise climática está a provocar o aumento das mordidas de cobras em vários países africanos como o Sudão do Sul, o Bangladesh, a Nigéria, o Paquistão ou Mianmar.

A maioria do países não tem tratamentos suficientes, e a falta de regulamentação dos mesmos já levou à venda de antídotos falsos, o que faz com que a maioria das pessoas, desconfiadas, não procure ajuda.