Desde que foi constituído a 20 de setembro de 1991, o Conselho Português para os Refugiados (CPR) ajudou “centenas de milhares” de pessoas que pediram asilo a Portugal, dando-lhes apoio jurídico, social, aulas de Português e auxiliando-os na procura de emprego, contou à agência Lusa a presidente da organização, Teresa Tito de Morais.

Nos últimos três anos, os apoios cresceram muito devido ao aumento do número de pedidos de asilo, “mas o CPR esteve sempre aberto e presente na vida daqueles que pediram proteção a Portugal”, sublinhou.

À frente da organização não-governamental desde a sua constituição, Teresa Tito de Morais lembrou que o CPR foi criado para “preencher uma lacuna que existia em Portugal no trabalho junto dos refugiados”.

Hoje, “as coisas estão bastante diferentes, porque temos outros desafios pela frente e Portugal tem também compromissos para acolher vários refugiados”, no âmbito dos programas de recolocação e reinstalação.

E, segundo a responsável, “os desafios são imensos” devido “à situação de instabilidade” que se vive no mundo, que gera refugiados, mas também à necessidade de os países, particularmente europeus, criarem “mecanismos solidários”, políticas comuns de asilo para resolver este problema.

“O mundo está cada vez mais instável, com situações de intolerância, de falta de respeito com os direitos humanos, com conflitos armados generalizados que provocam centenas de milhares de vítimas e é uma imposição ética e moral que os Estados possam responder a esta exigência”.

Relativamente a Portugal, Teresa Tito de Morais avançou que o CRP está a construir um novo centro de acolhimento em Loures, uma vez que as instalações na Bobadela, para adultos e famílias, e o centro da criança refugiada, que tem neste momento cerca de 20 menores não acompanhados, “já são insuficientes” para responder aos pedidos.

Está também a celebrar protocolos com vários municípios do país para “receber e acolher famílias e pessoas” da Síria, da Eritreia, do Iraque, do Afeganistão e do Sudão que estão em campos de refugiados na Turquia e no Egito, onde não podem ficar por mais tempo.

Teresa Tito Morais destacou também o trabalho desenvolvido pelo CPR de sensibilização da opinião pública para a problemática dos refugiados, através da realização de congresso e ações nas escolas.

“Eu penso que a opinião pública hoje esteja mais esclarecida, mas é um trabalho constante, que tem que ser feito com muita objetividade”, defendeu.

Para a responsável, é preciso desmitificar-se todos “os mitos e receios”, porque “há um contraste entre a vontade de ser solidário e o medo do desconhecido ou a eventual exposição de Portugal a redes terroristas”.

“É um trabalho constante”, disse, lembrando que há 25 anos, os dirigentes políticos “não se preocupavam minimamente” com esta população, porque “o problema da emigração tinha mais significado”, embora os refugiados existam desde 1951.

A nomeação de António Guterres como alto comissário das Nações Unidas para os Refugiados também contribuiu para que a sociedade e os dirigentes políticos passassem “a dar um pouco de mais atenção” à questão dos refugiados.

O papel do CPR foi “desbravar, com sentido de responsabilidade”, este caminho, “prevendo que, mais tarde ou mais cedo”, Portugal seria envolvido “neste grave problema humanitário dos refugiados” e que teria que “encontrar soluções e planos de integração e acolhimento para estas pessoas”.