A “marcha branca”, convocada pela mãe do jovem, baleado no peito pela polícia, começou ao princípio da tarde com a presença de milhares de participantes agrupados atrás de uma faixa com a palavra de ordem “Justiça para Nahel”, aos gritos de “Nunca Mais”.

A mesma palavra de ordem, “Justiça para Nahel”, está também inscrita na ‘t-shirt’ utilizada pela mãe do jovem, que terá desrespeitado um controlo de trânsito na terça-feira, captado pelas câmaras de vigilância e cuja morte desencadeou duas noites consecutivas de violência urbana em França.

A marcha, rodeada de grandes medidas de segurança, decorreu de forma pacífica, tendo, porém, surgido tensões no final do percurso, junto à prefeitura do departamento de Hauts-de-Seine (Altos do Sena, localizado na região da Ilha de França e cuja capital é Nanterre), com a polícia a disparar granadas de gás lacrimogéneo, o que levou à dispersão dos manifestantes.

Durante a manhã, o procurador de Nanterre, Pascal Prache, anunciou que o agente da polícia, um motociclista de 38 anos, seria apresentado a dois juízes de instrução no final do dia, com vista a ser acusado.

“O Procurador-Geral considera que não estão reunidas as condições legais para a utilização da arma”, declarou.

O Procurador-Geral da República pediu a prisão preventiva do agente da polícia, uma opção rara neste tipo de casos.

“Deploramos o facto de o procurador ter ocultado a eventual cumplicidade do segundo polícia em homicídio voluntário e a eventual falsificação de documentos públicos resultante das falsas declarações iniciais do atirador, que tinha declarado formalmente que o jovem Nahel tinha tentado atropelá-lo com o veículo”, declarou o advogado da família, Yassine Bouzrou, num comunicado.

De acordo com um vídeo cuja veracidade a agência noticiosa France-Presse (AFP) disse ter confirmado, um dos dois polícias apontou a arma a Nahel e disparou à queima-roupa.

O caso reacendeu a controvérsia sobre a atuação da polícia em França, onde se registou um recorde de 13 mortes em 2022 na sequência de recusas de obediência a ordens, e fez aumentar as tensões há muito existentes entre os jovens e a polícia nos bairros sociais e noutros bairros desfavorecidos de França.

Hoje, a direita francesa apelou ao estado de emergência, com o presidente do partido Républicains, Eric Ciotti, a pedir que as medidas excecionais utilizadas em novembro de 2005 sejam introduzidas “sem demora”.

“Podemos mobilizar uma enorme quantidade de recursos […] sem precisar de recorrer a artigos específicos da Constituição”, reagiu o ministro do Interior francês, Gérald Darmanin, que anunciou uma maior mobilização de segurança para a noite de quinta-feira: 40.000 polícias e gendarmes mobilizados, incluindo 5.000 em Paris (em comparação com 2.000 na noite passada)

“Vamos fazer todos os possíveis para que regressa a ordem”, destacou Darmanin, indicando que a mobilização das forças da ordem prevista para hoje é quatro vezes superior à força destacada na noite passada, cujos distúrbios provocaram ferimentos sem gravidade a cerca de 170 agentes da polícia.

Os primeiros confrontos contra a polícia eclodiram na noite de terça-feira nos arredores de Nanterre, em Paris, onde Nahel foi morto, tendo o governo destacado dois mil polícias para manter a ordem na quarta-feira, mas os atos de violência recomeçaram após o anoitecer.

O Presidente francês, Emmanuel Macron, considerou hoje injustificáveis as “cenas de violência” contra as “instituições da República”, referindo-se aos distúrbios da última noite.

JSD (PSP) // APN

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