"Ninguém ganhou", disse Macron em sua primeira declaração desde as eleições de domingo, em uma carta ao povo publicada na imprensa francesa.

O líder centrista dissolveu a Assembleia Nacional e convocou eleições legislativas antecipadas após a vitória da extrema-direita francesa nas eleições europeias de 9 de junho.

"Convoco todas as forças políticas que se identificam com as instituições republicanas, o Estado de Direito, o parlamentarismo, a orientação europeia e a defesa da independência da França a engajarem-se em um diálogo sincero e leal para construir uma maioria sólida, necessariamente plural, para o país", escreveu Macron.

Nenhum partido ou coligação obteve a maioria absoluta de 289 deputados na nova Assembleia Nacional. A Nova Frente Popular (NFP), uma aliança de esquerda, ficou em primeiro lugar com 190 a 195 assentos, a aliança de centro-direita de Macron com cerca de 160 e a extrema-direita com mais de 140.

A convocação do presidente parece ter como objetivo excluir o Reagrupamento Nacional (RN) de Marine Le Pen (extrema-direita), mas também implicitamente a principal formação do NFP, A França Insubmissa (LFI, esquerda radical) liderada pelo polêmico Jean-Luc Mélenchon, que gera relutância entre outras forças.

"Macron está a propor um cordão sanitário ao LFI, que ele mesmo ajudou a eleger há três dias (...). Este circo está a tornar-se vergonhoso", reagiu Le Pen no X. Já o presidente do RN, Jordan Bardella, acusou o chefe de Estado de "organizar a paralisia do país levando a extrema-esquerda às portas do poder com acordos indignos". "Agora a sua mensagem é: 'vocês que se entendam'", declarou o político de 28 anos.

Macron especificou que tomará uma "decisão sobre a nomeação do primeiro-ministro" quando as forças políticas tiverem "criado (...) compromissos", o que significa dar-lhes "um pouco de tempo".

O primeiro-ministro Gabriel Attal permanecerá no cargo por enquanto, no momento em que Paris finaliza os preparativos para os Jogos Olímpicos de Paris, que começarão em pouco mais de duas semanas.

Perante dos números do NFP, o partido governista parece dividido entre os que são a favor de uma aliança com Os Republicanos (LR, conservadores) e os que defendem uma ampla coalizão que inclua "os social-democratas".

Aurore Bergé, reeleita no domingo e ministra delegada para a Igualdade de Género no governo anterior, disse que o seu grupo quer aliar-se ao LR e a outros parlamentares próximos ao centro. Já o ministro do Interior, Gérald Darmanin, que também foi reeleito, disse à CNews que poderia apoiar um "primeiro-ministro de direita".

Por sua vez, a aliança de esquerda pretende propor um novo primeiro-ministro, mas uma grande parte do partido do presidente recusa-se a apoiar um governo que inclua figuras da esquerda radical.

"O presidente recusa-se a reconhecer o resultado das urnas, que coloca a Nova Frente Popular na liderança em termos de votos e assentos", escreveu Mélenchon nas redes sociais, reagindo à carta de Macron.

A NFP, que inclui ambientalistas, socialistas, comunistas e o LFI, anunciou que proporia um candidato antes do final da semana. Mélenchon está a apoiar a deputada Clémence Guetté, não muito conhecida, mas popular entre os ativistas da esquerda radical. Aos 33 anos, oferece uma imagem menos divisiva e mais calma.

O líder socialista mais moderado, Olivier Faure, também disse que estaria "disposto a assumir" o cargo. "Tomei a decisão do reagrupamento da esquerda e não vou abandoná-la", declarou Faure à emissora France 2 nesta quarta-feira, quando perguntado sobre a aliança com a LFI, questionada inclusive dentro do seu partido.