“É uma situação terrível. Será uma imensa tristeza se isto destruir a floresta Laurissilva porque de facto é uma preciosidade. É preciso que as pessoas também sintam que grande parte da economia e da viabilidade da Madeira é porque existe esta floresta”, assinalou esta tarde à Lusa, enquanto tentava avaliar a situação do fogo.

A professora salientou que se trata de um património completamente único que “mais ninguém tem desta dimensão” e vital para o futuro do arquipélago.

Helena Freitas realçou que a floresta, que ocupa cerca de 20% do território, cerca de 15 mil hectares, é que garante a humidade na ilha da Madeira.

“Quando pensamos nas levadas e nas visitas à Madeira, muito do turismo também resulta desta identidade, desta riqueza e deste caráter singular que a ilha tem”, sublinhou.

A docente, coordenadora da Cátedra UNESCO em Biodiversidade e Conservação para o Desenvolvimento, tem dúvidas sobre se será possível recuperar dos danos causados pelo fogo.

“Nem sei se podemos falar numa situação recuperável, mas de facto é um espólio muito singular. Estamos a falar de uma flora vascular e exuberante, com mais de mil espécies, em que cerca de 20% são completamente exclusivas da ilha da Madeira”, descreveu.

Helena Freitas destaca ainda a importância da floresta para suster a erosão de um relevo muito montanhoso, lembrando que a capacidade produtiva também depende dos solos. “Não há nada que não seja afetado com a perda da biodiversidade”, sublinhou.

A especialista alertou para necessidade de haver um empenho na conservação e proteção da floresta e, se for o caso, apostar no restauro, lembrando que o Governo aprovou a lei europeia desta área e que esta pode ser uma primeira atuação.

“Se colocarmos a Laurissilva no primeiro nível de intervenção e de proteção, eu ficaria muitíssimo satisfeita, pois considero que seria da maior oportunidade”, sustentou.

A Madeira está a ser atingida por um grande incêndio que deflagrou na manhã de quarta-feira na Serra de Água, concelho da Ribeira Brava, numa zona de difícil acesso, e alastrou depois ao município vizinho de Câmara de Lobos.

Pelo menos 160 pessoas foram retiradas em diferentes momentos das suas habitações devido ao incêndio, nos dois concelhos, disse hoje à Lusa fonte da Secretaria Regional de Saúde e Proteção Civil.

De acordo com o mais recente balanço divulgado pelo Serviço Regional de Proteção Civil, às 08:30, estavam ativas três frentes, nas áreas do Curral das Freiras e Fajã das Galinhas, no concelho de Câmara de Lobos, e na Serra de Água, na Ribeira Brava. O próximo balanço oficial será feito às 19:00, mas autarcas no terreno explicaram que a situação continua a motivar preocupação, com a aproximação das chamas de zonas urbanas, e a obrigar a algumas retiradas de pessoas.

As chamas estão a ser combatidas por 120 operacionais de todos os corpos de bombeiros da região, apoiados por 43 veículos e pelo meio aéreo do arquipélago, sendo que a região conta ainda, a partir de hoje, com o apoio dos 76 elementos da força conjunta da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil.

O Plano Regional de Emergência de Proteção Civil da Região Autónoma da Madeira (PREPCRAM) foi ativado para responder “à gravidade da situação vivenciada”.