13 de março de 2013. Jorge Mario Bergoglio tornou-se no primeiro jesuíta a tornar-se Papa, o 266.º da História.

Adoptando o nome Francisco, inspirado em Francisco de Assis, o intelectual jesuíta, que viajava de autocarro e tem uma visão prática da pobreza — pelos contextos em que viveu —, o atual Papa está sentado na Cátedra de São Pedro há sete anos.

No segundo aniversário do pontificado, Francisco, declarou ter a sensação de que o pontificado podia ser breve, de quatro ou cinco anos, mas desmentiu sentir-se "só e sem apoio".

"Tenho a sensação que o meu pontificado vai ser breve. Quatro ou cinco anos. Não sei. Ou dois ou três. Dois já passaram. É uma sensação um pouco vaga que tenho, a de que o Senhor me escolheu para uma missão breve. Sobre isso, mantenho a possibilidade em aberto", afirmou o Papa numa longa entrevista à cadeia de televisão mexicana Televisa.

À pergunta "gosta de ser Papa?", Francisco respondeu sobriamente e sem entusiasmo excessivo: "Não me desagrada". Um ano antes tinha admitido perante milhares de jovens e professores de escolas jesuítas que não queria tornar-se no líder da Igreja Católica. E sete anos já passaram.

A eleição, após a histórica renúncia de Bento XVI, foi alcançada após cinco votações, no quinto dia do conclave.

O pontificado de Bento XVI foi marcado por escândalos e foi referido que o Papa Francisco iria encarar desafios imediatos: teria de impor a sua autoridade à máquina burocrática e institucional do Vaticano e tentar recuperar os fiéis que a Igreja vinha a perder nos últimos tempos.

Depois do escândalo da fuga de documentos confidenciais do Papa, "Vatileaks", e do relatório sobre estes acontecimentos, Bento XVI anunciou, a 11 de fevereiro de 2013, e para surpresa geral, a renúncia devido à idade avançada.

Foi o primeiro líder da Igreja Católica a renunciar desde a Idade Média, tendo abandonado o Vaticano a 28 de fevereiro, deixando um decreto que autorizava os cardeais a antecipar a data do conclave.

O primeiro discurso e a reação do Vaticano

"Parece que os cardeais foram procurar o novo pontífice no fim do mundo", declarou o argentino Jorge Mário Bergoglio, já Papa Francisco, da varanda do Vaticano.

No primeiro discurso, Francisco convidou os fiéis "a tomarem o caminho da fraternidade, do amor" e "da evangelização" e pediu à multidão congregada na praça de São Pedro um minuto de silêncio: "Rezem por mim e deem-me a vossa benção".

"Rezemos uns pelos outros, para que haja uma grande irmandade. Este caminho deve dar frutos para a nova evangelização", afirmou.

Um Papa novo, vindo de longe e com uma atitude marcadamente diferente desde início. Por isso, o Vaticano elogiou os cardeais que elegeram o primeiro Papa da América Latina no histórico conclave na Capela Sistina. Os cardeais eleitores "tiveram a coragem de atravessar o Oceano e alargar a perspetiva da Igreja", disse aos jornalistas o então porta-voz do Vaticano, o padre Federico Lombardi, no dia da eleição.

Lombardi saudou também "o testemunho de grande simplicidade" e "a aceitação de um serviço a prestar" à Igreja.

Sobre o discurso, o porta-voz do Vaticano também não ficou indiferente: o Papa Francisco "teve um belo gesto ao pedir a benção [dos fiéis] e ao inclinar-se" perante eles, e esta atitude de serviço é "a continuidade de Bento XVI", disse.

Francisco, o Papa da esperança e da proximidade

Entre novas Exortações e Cartas Apostólicas, obras de reforma, Sínodos, viagens e visitas pastorais, Francisco não se esquece do seu ministério missionário, ao serviço da Igreja e da humanidade.

Ao Vatican News, o cardeal filipino Luis Antonio Tagle recorda estes sete anos de pontificado como "uma parábola sobre a proximidade de Deus".

"Além da riqueza do ensinamento e dos gestos que recebemos do Papa Francisco nestes últimos sete anos, alegro-me pelas lições que aprendi com o seu exemplo. Prestar atenção às pessoas individualmente no meio da grande multidão, manter contacto pessoal dentro de uma grande organização ou burocracia eclesiástica, aceitar os próprios limites e a necessidade de ter colaboradores, saber que é um servidor e não o Salvador", referiu.

Desde início, Francisco procurou pôr em evidência variados temas sociais, defendendo a proteção dos idosos e das crianças, o direito a um trabalho digno, a defesa do ambiente e ainda a ajuda aos refugiados, tornando visível a mensagem social da Igreja.

Poucos meses depois da sua eleição, quando uma parte do mundo começou a conhecê-lo, Francisco anunciou qual seria sua primeira viagem e não foi para nenhum centro do cristianismo, mas para Lampedusa, centro da tragédia de migrantes no Mediterrâneo.

Nas viagens a Myanmar (Birmânia) e Bangladesh, lidou com o drama da minoria muçulmana da Rohingya lembrando a comunidade internacional que este é um assunto que não deve ser esquecido.

Acusou o Vaticano de se centrar nele próprio e esquecer-se do resto do mundo e não fugiu dos temas em que a Igreja sempre assumiu uma postura conservadora. Simplificou os procedimentos para o reconhecimento da anulação dos casamentos católicos, afirmou-se incapaz de julgar homossexuais que procuram Deus, discutiu a necessidade do fim do celibato no clero ou a ordenação de sacerdotes do sexo feminino, no contexto do Sínodo da Amazónia.

Francisco também atinge as consciências incluindo a Igreja na luta pela proteção do meio ambiente na encíclica "Laudato si", que se tornou um verdadeiro manifesto ambiental e social em todo o mundo.

Noutros textos de seu pontificado, a exortação apostólica "Evangelii Gaudium”, Francisco também apresentou a denúncia do sistema económico atual: "uma economia que mata".

"Os lucros de alguns crescem exponencialmente, os da maioria permanecem cada vez mais longe do bem-estar dessa minoria feliz" e "esse desequilíbrio social vem de ideologias que defendem a autonomia absoluta dos mercados e a especulação financeira", denunciou.

A questão da pedofilia por membros do clero, a que Francisco prometeu "tolerância zero", também tem sido discutida em profundidade. Recentemente, o Papa decidiu abolir o segredo pontifício para os casos de abuso sexual por parte de membros do clero num decreto publicado pelo Vaticano, atendendo a uma das reivindicações das vítimas.

Além disso, Francisco mudou também a "geografia cardinalícia". No início de março de 2013, antes de Francisco assumir a liderança da Igreja Católica, a maioria (60) dos então 115 cardeais eleitores, aqueles que podem eleger o Papa por terem menos de 80 anos, tinha proveniência europeia. Numa projeção a 15 de outubro de 2019, feita pela agência Ecclesia, dos 124 cardeais eleitores, 54 serão europeus. Entretanto, mais um português se juntou ao leque: José Tolentino Mendonça, cardeal, arquivista e bibliotecário da Santa Sé e membro do Conselho Pontifício da Cultura.

Antes de chegar ao Vaticano

Mas recuemos um pouco, no que diz respeito a Francisco. Ainda recordamos o que fez antes de ser eleito Papa?

Nasceu a 17 de dezembro de 1936, na capital argentina e foi ordenado a 13 de dezembro de 1969, durante os estudos na Faculdade de Teologia do colégio de São José, em São Miguel de Tucuman (norte da Argentina).

Em 1969, viajou para Espanha, onde cumpriu o seu terceiro período de preparação sacerdotal na Universidade de Alcalá de Henares, em Madrid.

A docência desempenhou um papel muito importante na biografia do cardeal Bergoglio, já que ensinou em vários colégios, seminários e faculdades.

Em 1972, regressou à Argentina para ser professor de noviços na localidade de São Miguel de Tucuman.

Em 1980-1986, desempenhou as funções de reitor da Faculdade de Filosofia e Teologia de São Miguel. Concluiu o doutoramento na Alemanha, e foi também confessor e diretor espiritual da Companhia de Jesus, em Córdova (Espanha).

A nomeação como bispo aconteceu a 20 de maio de 1992, quando João Paulo II lhe confiou a diocese de Auca e o tornou bispo auxiliar da diocese de Buenos Aires.

Cinco anos mais tarde, em 1997, foi nomeado arcebispo coauditor de Buenos Aires e em 1998, depois da morte do arcebispo e cardeal Quarracino, subiu a arcebispo da capital argentina.

O cardeal argentino integrava a Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, do Conselho pontifício para a Família e a Comissão Pontifícia para a América Latina.

Foi presidente da conferência de bispos na Argentina, entre 08 de novembro de 2005 e 08 de novembro de 2011.

Bergoglio foi um dos mais ferozes opositores à decisão das autoridades argentinas de legalizar o casamento homossexual em 2010, argumentando que as "crianças precisam de ter o direito a ser criadas e educadas por um pai e uma mãe". No entanto, há quem o descreva como um moderado, tendo recebido a dignidade cardinalícia de João Paulo II, a 21 de fevereiro de 2001.

É um reconhecido adepto de futebol e manifestou por diversas ocasiões ser um seguidor do San Lorenzo de Almagro, clube fundado pelo padre Lorenzo Massa em 1908, tendo celebrado mesmo a eucaristia que assinalou os cem anos do clube. Mas muito mais pode ser dito — e a história continua a escrever-se.