Zambada passou uma imagem de fragilidade durante a curta audiência num tribunal federal de El Paso, no Texas, informou o jornal local El Paso Times.

O réu chegou de cadeira de rodas à audiência, cercado de quatro agentes, reportou o jornal, enquanto outra dezena de membros das forças de ordem vigiavam o interior e o exterior do tribunal.

A audiência centrou-se num dos advogados de Zambada que tinha conflito de interesses por ter representado o seu filho, detido pelas autoridades mexicanas em 2013 e extraditado para os Estados Unidos.

El Mayo, que se havia declarado inocente e está preso sem direito a fiança, disse à juíza que queria manter os seus advogados, ainda segundo o El Paso Times.

A segunda questão tratada na audiência foi se deve ser julgado juntamente com outros acusados de pertencer ao cartel de Sinaloa.

Zambada enfrenta acusações em vários estados do país, e o Departamento de Justiça decidirá onde será julgado.

Com 76 anos, foi detido na quinta-feira passada juntamente com Joaquín Guzmán López, de 38 anos, filho do líder do tráfico Joaquín "El Chapo" Guzmán, após aterrar num avião particular no aeroporto de Santa Teresa, no Novo México, perto de El Paso.

Segundo o ex-chefe de operações internacionais da agência antidrogas americana (DEA), Mike Virgil, espera-se que Zambada "dê informação muito valiosa sobre políticos de alto nível no México que lhe davam proteção" para operar.

Guzmán López também foi detido, mas transferido para Chicago, onde na terça-feira também se declarou inocente de narcotráfico. O seu advogado descartou a existência de um acordo entre Guzmán e o governo americano.

Sequestro?

O advogado Frank Pérez disse à imprensa que seu cliente foi sequestrado e depois levado de avião para o território americano.

"Isso não resiste à lógica, o líder de um cartel não anda sem escolta de segurança (...) Aparentemente Guzmán filho disse a 'El Mayo' para ir ver uma quinta e depois apanhou o avião para Santa Teresa, Novo México", acrescentou Vigil.

O advogado de Guzmán filho, Jeffrey Lichtman, esclareceu que o seu cliente não é acusado de sequestro.

As autoridades mexicanas informaram que não participaram da operação e detalharam na segunda-feira que os Estados Unidos também negaram tê-la planeado.

Os agentes que prenderam "El Mayo" e Guzmán filho não sabiam que o avião transportava Zambada, por quem os Estados Unidos ofereciam a recompensa de 15 milhões de dólares.

As autoridades mexicanas detalharam que os Estados Unidos foram informados "em várias ocasiões" de que Guzmán López estava a considerar entregar-se, mas nunca havia concretizado esta intenção.

Na manhã da quinta-feira passada, um relatório indicou, sem dar mais detalhes, que Guzmán López planeava entregar-se ao entrar naquele mesmo dia em território americano num avião privado. O dado de que "El Mayo" viajava no avião foi recebido cerca de duas horas antes da aterragem em Santa Teresa, segundo o México.

As autoridades americanas esperaram a sua chegada e detiveram os passageiros após o seu desembarque.

Depois da captura, circularam versões segundo as quais Ovidio Guzmán, outro filho de "El Chapo" preso nos Estados Unidos, tinha tornado-se testemunha protegida. Washington esclareceu que ele continua sob a sua custódia.

Segundo a DEA, "Los Chapitos", como são conhecidos os filhos de "El Chapo", travam uma "batalha interna" contra El Mayo, que "não goza de boa saúde" e teria perdido poder na organização criminosa.

 A vingança do filho

Para Vigil, Guzmán López traiu Zambada pelo que o filho dele fez a "El Chapo", preso nos Estados Unidos, e porque tanto ele quanto o seu irmão detido buscam benefícios na prisão.

Vigil não vê um impacto importante no cartel com a detenção de Zambada porque a infra-estrutura continua intacta. "É o cartel mais poderoso que existe no mundo" e não prevê que haja uma matança para a sucessão, pois isto beneficiaria os rivais do cartel Jalisco Nova Geração.