A vice-presidente dos Estados Unidos, que percorre estados cruciais em busca de apoio nas eleições, atacou Trump num discurso na cidade de Eau Claire, perante uma multidão de apoiantes.

"Ele prometeu que, reeleito, seria um ditador desde o primeiro dia, que instrumentalizaria a Justiça contra os seus inimigos políticos, citando, inclusive, que aboliria a Constituição", lembrou Kamala. "Alguém que sugere abolir a Constituição nunca mais deveria ter a oportunidade de estar por trás do selo de presidente dos Estados Unidos."

Acompanhada pelo seu companheiro de corrida, Tim Walz, a democrata tenta formar uma coligação com os indecisos, independentes e até mesmo republicanos insatisfeitos com Trump. "Com o seu número dois [J.D. Vance], ambos partilham as mesmas crenças perigosas e retrógradas", disse Walz aos apoiantes em Eau Claire.

Após a passagem por Wisconsin, Kamala e Walz viajarão à cidade de Detroit (Michigan) para participar num ato com membros do sindicato automobilístico United Auto Workers (UAW).

Com as sondagens cada vez mais favoráveis, a vice-presidente de 59 anos quer aproveitar o impulso e a dinâmica gerados no mês passado, quando substituiu Joe Biden como candidata do Partido Democrata. Mas a dupla tem apenas três meses para convencer os eleitores indecisos.

Em entrevista ao canal de TV CBS, Biden disse que "não está confiante" numa transição pacífica de poder se Trump perder em novembro, segundo um excerto da conversa divulgado esta quarta-feira. "Não o estamos a levar a sério, mas ele fala a sério... tudo isso de, 'se perdermos, haverá um banho de sangue'", advertiu.

A equipa de campanha democrata planea ter mais de 750 participantes nos eventos dos principais estados que formam o chamado "muro azul", Pensilvânia, Wisconsin e Michigan, quando a Convenção Nacional Democrata for iniciada em Chicago, em meados de agosto.

"O ímpeto da vice-presidente Kamala Harris e do governador Tim Walz nos estados em disputa, incluindo no muro azul, é real e será plenamente demonstrado hoje", disse Dan Kanninen, diretor da campanha de Harris para esses estados.

Muitos republicanos de peso mostraram-se satisfeitos com a escolha de Walz em vez do governador da Pensilvânia, Josh Shapiro, bastante popular num estado que a maioria dos especialistas concordam que será a conquista máxima em 2024.

Os republicanos acusam Walz de ser um idealista de extrema-esquerda que ofereceu benefícios a migrantes ilegais e tolerou distúrbios nas ruas em 2020 no decurso dos protestos do Black Lives Matter após o assassinato do afro-americano George Floyd pela polícia.

Não é claro para já o quão eficazes serão os ataques, já que o próprio Trump reconheceu numa entrevista recente que "o vice-presidente — em termos de eleição — não tem impacto... A escolha de um vice-presidente não faz diferença".

Trump não se tem concentrado nas fraquezas políticas de Kamala, mas em ataques pessoais, que têm sido, em grande parte, ineficazes para impedir o seu avanço.

Harris supera Trump por 51-48% na última sondagem da NPR/PBS News/Marist e por 0,5 pontos percentuais na média nacional de sondagens da RealClearPolitics. Há 17 dias, quando Biden retirou a sua candidatura à reeleição e deu lugar a Harris, Trump estava à frente do atual presidente por três pontos.

Trump, que costumava ser famoso pela sua habilidade em definir os seus oponentes com um apelido incisivo de uma palavra — como "desonesta" para Hillary Clinton ou "mentiroso" para Ted Cruz — encontrou agora dificuldades em encontrar um para Kamala Harris. A sua gaffe mais recente — chamá-la "Kamabla" — pareceu mais um erro de digitação do que propriamente um insulto, e despertou dúvidas entre especialistas.