Cânticos de "Obrigado Joe!" ressoaram entre o público num colégio em Maryland, perto de Washington. Biden foi celebrado quando atribuiu a si o mérito de um importante acordo para reduzir os preços dos medicamentos para os beneficiários do seguro médico federal Medicare.

No entanto, a maior estrela foi a vice-presidente de Biden, que uniu o Partido Democrata e tem superado nas sondagens o republicano Donald Trump desde que entrou de forma abrupta na corrida eleitoral. "Ela pode ser uma grande presidente", disse Biden sobre Kamala.

A aparição conjunta ocorreu algumas horas antes de Trump realizar uma conferência de imprensa no seu clube de golfe em Nova Jersey.

O magnata do setor imobiliário e ex-presidente (2017-2021) tem apresentado dificuldades para seguir com a sua campanha desde que Biden se retirou da disputa em 21 de julho, dados os temores do partido de que estava muito velho e fatigado para enfrentar Trump.

Até então, Trump vinha a subir de maneira constante nas sondagens, em grande parte pela sua mensagem de que Biden estava a perder a sua acuidade mental, uma acusação que ganhou força quando o presidente teve um desempenho sofrível num debate presidencial na televisão.

Agora é Kamala Harris, de 59 anos, que ganha impulso contra Trump, de 78. E Biden, aos 81 anos e no final do seu mandato, parece revitalizado, abraçando o papel de mentor que passa o testemunho para a sua protegida.

No seu discurso, Biden disse que o plano dos democratas era "dar uma tareia" nos adversários republicanos e provocou risos ao fingir que não sabia o nome de Trump: "Donald Dump [lixeira em inglês]", brincou.

Kamala, que será coroada como candidata democrata na convenção do partido que acontece em Chicago na próxima semana, deu uma demonstração de deferência vice-presidencial, fazendo apenas comentários breves e destacando que foi uma honra para ela servir sob o comando do "ser humano mais extraordinário". "Há muito amor nesta sala pelo nosso presidente", disse ela entre aplausos.

O acordo do governo com as farmacêuticas reduzirá o preço que os reformados pagam por dez medicamentos-chave, que incluem tratamentos para diabetes e insuficiência cardíaca.

O acordo com os produtores que, segundo a Casa Branca, fará os beneficiários do seguro médico federal Medicare — ou seja, pessoas acima dos 65 anos — e os contribuintes economizarem, respectivamente, 1,5 mil milhões e 6 mil milhões de dólares, no primeiro ano da sua entrada em vigor, tem conotações eleitorais para Kamala, já que o custo de vida será um fator determinante nas eleições.

"Durante anos, milhões de americanos tiveram de escolher entre comprar remédios ou alimentos", disse Biden em comunicado, "mas enfrentámos [os laboratórios] e ganhámos", acrescentou.

A vice-presidente, por sua vez, prometeu que a medida não pararia por aí, ao apontar que o custo de outros medicamentos será discutido nos próximos anos.

Na sua declaração, Kamala qualificou as negociações com as companhias farmacêuticas como "históricas" e "que mudaram a vida" dos americanos que pagam pelos medicamentos receitados.

Os preços dos medicamentos, que não são regulados em nível nacional nos Estados Unidos, costumam ser muito mais elevados do que em outros países desenvolvidos. É comum que até mesmo os segurados tenham de pagar parte do custo do próprio bolso.

Nesta sexta-feira, Kamala vai apresentar pela primeira vez os detalhes do seu programa económico.

Espera-se que a vice-presidente siga em grande medida a agenda económica de Biden, enquanto também tenta diferenciar-se e evitar a repulsa dos eleitores pelo aumento da inflação depois da pandemia de covid-19.

As sondagens mostravam que os americanos confiavam mais em Trump do que em Biden para gerir a maior economia do mundo, mas um levantamento recente do jornal Financial Times e da Universidade de Michigan revelou que Kamala já ultrapassou o republicano: 42% contra 41%.