De acordo com o Índice de Saúde Sustentável, desenvolvido pela Nova Information Management School (NOVA-IMS) e que este ano analisou pela primeira vez a perspetiva dos portugueses face ao futuro e inovação em saúde, três em cada quatro dos inquiridos consideram que estão informados sobre o seu estado de saúde e têm conhecimento de como prevenir uma doença.

“É até surpreendente, não esperaria que tantos portugueses dissessem que recorriam a algum cuidado de saúde com o objetivo de prevenir uma doença, mas não deixa de ser verdade de quase 40% não o faz e que, desses 40% praticamente metade diz que não o faz porque não é necessário”, considerou Pedro Simões Coelho, o coordenador do estudo.

O responsável considera ainda que este último dado mostra que “há um trabalho a fazer de pedagogia junto da população” para a prevenção da doença.

O estudo indica que as doenças que os inquiridos consideram que terão mais impacto no futuro são as oncológicas, as cardiovasculares e as relacionadas com a saúde mental.

“Aqui a saúde mental também me surpreende, mas talvez não esteja desconectado da covid e do facto de os temas da saúde mental terem aparecido com muita relevância nestes anos. Agora aparece já no top 3 das preocupações das doenças do futuro, curiosamente muito acima da preocupação com doenças infecciosas”, sublinhou o especialista.

Questionados sobre quais as áreas em que é mais importante investir, os portugueses elegem o acesso a melhores meios de diagnóstico (97,% consideram importante ou muito importante), a medicina personalizada e a disponibilização de mais informação com vista à prevenção (ambas com 96,2%) e a promoção do acesso a medicamentos inovadores (95,1%).

Os dados indicam também que a maioria dos portugueses (63,7%) estaria disponível para fornecer dados sobre a sua saúde, através de um dispositivo eletrónico, com o objetivo de receber aconselhamento relativo à prevenção de doenças, e que 66% estaria disponível para uma teleconsulta na próxima vez que sentir necessidade de uma consulta médica.

“Já sabemos que todos instalamos ‘apps’ no telemóvel e partilhamos tudo o que é dados. Mas [na área da saúde] parece que se mantém esta disponibilidade para facultarem dados se, com isso, tiverem uma contrapartida relevante”, destacou Pedro Simões Coelho, acrescentando que “este é um tema muito importante para futuro”.

Os profissionais de saúde e a qualidade da informação que fornecem são, mais uma vez, o ponto forte na ótica dos utentes e um dos que deve ser valorizado, enquanto a facilidade de acesso aos cuidados é um dos pontos a melhorar.

Por outro lado, os tempos de espera entre marcação e a realização dos atos médicos é uma das rubricas que, na ótica dos inquiridos, precisa de ser aperfeiçoada.

Os dados do Índice de Saúde Sustentável mostram uma melhoria na qualidade do SNS percecionada pelos utentes, tendo aumentado em 7,7 pontos a avaliação da qualidade técnica, que considerou 13 indicadores validados e ponderados por um grupo de peritos.

A maioria dos utentes considera os montantes pagos pelos medicamentos adequados e 11% acha o valor das taxas moderadoras inadequadas, mas os dados indicam que os utentes continuam a ter uma perceção do valor das taxas moderadoras que é superior ao valor real.

Por exemplo, nas consultas externas/especialidade num hospital público, os inquiridos julgam que o valor das taxas ronda os 10,92Euro quando valor real é de 7Euro, o mesmo acontecendo para os internamentos, que não têm taxa moderadora, mas o valor percecionado é de 23,10Euro.

Pedro Simões Coelho sublinhou o facto de a proporção de pessoas que decidiu não comprar um medicamento por causa do preço (7,3%) “continuar a diminuir”, frisando: “aqui há um ano este valor era de 15%”.

Segundo os dados recolhidos, os utentes consideram também que a eficácia dos medicamentos é superior à dos cuidados de saúde recebidos.

O estudo diz que 321.000 (5,8%) episódios de urgência não se realizaram devido aos custos associados (taxas moderadoras e transportes), o mesmo acontecendo a 362.500 (1,5%) exames de diagnóstico, 335.500 (2,6%) consultas externas num hospital público e a 247.000 (0,7%) consultas com o médico de clínica geral ou de família no centro de saúde.

A satisfação e confiança dos utentes com os serviços de saúde aumentou na generalidade dos parâmetros avaliados, com exceção para urgência e internamento.

Investimento no SNS permitiu retorno de 7,5 mil milhões para a economia

O investimento no Serviço Nacional de Saúde em 2021 permitiu um retorno de 7,5 mil milhões de euros para a economia, graças ao impacto dos cuidados de saúde no absentismo e na produtividade, conclui o estudo.

“Houve um aumento que tem algum significado, face ao ano anterior, neste retorno, que é tributário de duas coisas: de um contributo mais significativo na redução do absentismo e da melhoria da produtividade (…) e também do facto de o custo do trabalho diário em Portugal ao longo dos anos ir aumentando progressivamente e, por essa via, acaba por se refletir num retorno para a economia”, explicou à agência Lusa Pedro Simões Coelho.

Segundo os dados do Índice de Saúde Sustentável, desenvolvido pela Nova Information Management School (Nova IMS), este retorno foi superior (mais 700 milhões) ao valor apurado em 2020 (6,8 mil milhões).

De acordo com os dados do estudo, a que a Lusa teve acesso, a maioria dos portugueses faltou pelo menos um dia ao trabalho em 2021 por motivos de saúde e 17% faltaram mais de 20 dias. No entanto, a prestação de cuidados de saúde pelo SNS permitiu evitar uma ausência laboral equivalente a 2,8 dias, representando uma poupança superior a mil milhões de euros.

O SNS permitiu ainda evitar 9,9 dias de trabalho perdidos em produtividade, resultando numa poupança de 3,9 mil milhões de euros. No total, somando o impacto no absentismo e na produtividade, o SNS permitiu uma poupança global de cinco mil milhões de euros por via dos salários.

Considerando o impacto dessa poupança, por via dos salários, e a relação entre produtividade/remuneração (valor referência do INE), o estudo conclui que os cuidados prestados pelo SNS permitiram um retorno para a economia de 7,5 mil milhões.

Os dados indicam também que o índice de sustentabilidade do SNS - que tinha caído no primeiro ano da pandemia - subiu em 2021 para 92,5 pontos, uma escalada explicada pela subida simultânea da qualidade percecionada e da qualidade técnica e por um significativo aumento da atividade (13%), que foi superior ao aumento da despesa (8%) e levou a um aumento da produtividade.

“Percebemos que 2021 é um bocadinho um ano de recuperação do covid e por ter sido um ano de recuperação há uma subida impressionante da atividade”, disse Pedro Simões Coelho, sublinhando-o que se estimam valores acima dos verificados na época pré-pandemia.

“Simultaneamente, temos um crescimento da despesa, mesmo que corrigida com a dívida vencida, que é na casa dos 9% e, portanto, é inferior ao crescimento da atividade. Ora é exatamente isso que se deseja: um crescimento da atividade a uma taxa superior à da despesa, o que significa um aumento de produtividade”, acrescentou.

Pedro Simões Coelho recorda ainda que esta subida de produtividade, que impulsionou o crescimento do Índice de Saúde Sustentável, “é um pouco irrepetível, pois surge no seguimento de um ano pós-covid”, e diz que, no futuro, novos ganhos de produtividade “não podem ser conseguidos senão à custa de restruturações, mudanças e aumentos de eficiência do sistema”.

A nota negativa diz respeito ao crescimento da dívida vencida no final do ano (em 2%), “mas que não é suficiente para impactar com significado a evolução do índice”, refere o estudo.

“Este aumento do deficit ainda não teve expressão na dívida vencida, que está mais ou menos constante e subiu 2%. O que significa que se conseguiu gerir o deficit de forma que ele não fosse passado para os fornecedores”, considerou, alertando: “a prazo, das duas uma - ou terá de ser financiado ou acabará por se refletir em dívida vencida.

Os dados indicam também que a despesa aumentou significativamente (8%) e realçam o crescimento substancial do deficit (+276%).

O trabalho, desenvolvido pela NOVA-IMS em colaboração com a AbbVie, Diário de Notícias e TSF, avalia não só a evolução da sustentabilidade do SNS, mas também o SNS do ponto de vista do utilizador. Identifica pontos fracos e fortes, bem como possíveis áreas prioritárias de atuação, além de procurar compreender os contributos económicos e não económicos.

Os dados hoje divulgados apontam para um ligeiro aumento da qualidade dos serviços de saúde percecionada pelos cidadãos (+0.7 pontos face ao ano anterior) e um considerável aumento na qualidade técnica, que passou dos 55,7 para os 63,4 pontos, valor superior aos registados no período pré-pandemia, em 2019 (58,8 pontos).

A avaliação dos portugueses do seu estado de saúde também melhorou: 77% considera o seu estado de saúde “bom” ou “muito bom”, uma percentagem superior à registada no ano anterior (59,8%).

Numa escala de 1 a 100, os portugueses classificam o seu estado de saúde com 75,7 pontos. Sem o efeito do SNS, o índice do estado de saúde ficaria pelos 63,2 pontos.

Contudo, mais de metade (53%) considera que o seu estado de saúde afeta negativamente a sua qualidade de vida, 47% considera que o seu estado de saúde provoca ansiedade ou depressão/dor ou mal estar, 45% diz que dificulta a realização de tarefas diárias (pessoais ou profissionais) e 43% que dificulta a sal mobilidade.

O Índice de Saúde Sustentável é hoje apresentado no Centro Cultural de Belém, em Lisboa.