Numa nota à comunicação social, a Acreditar - Associação de pais e amigos de crianças com cancro — explica que a “Covid-19 provocou alterações profundas na vida das famílias que se veem confrontadas com um diagnóstico de cancro pediátrico”. Agora, ainda em contexto pandémico, a associação não quer “deixar que o cancro pediátrico caia no esquecimento”.

A Acreditar considera “determinante que não se descure o que tem sido feito até agora nos serviços hospitalares de oncologia pediátrica”. Assim, diz que “não pode haver desinvestimento nesta área”.

Num inquérito realizado pela Acreditar sobre o impacto da Covid-19 no universo do cancro pediátrico, a que responderam 209 pessoas, entre pais, doentes e sobreviventes, a maioria refere que “tiveram alterações ao protocolo de tratamentos: atrasos nos tratamentos e exames para além da desmarcação de consultas”.

A associação diz não saber quantos diagnósticos podem estar a ser ignorados.

“Há pais com receio de ir aos centros de saúde ou aos hospitais, e consultas e exames que não são considerados urgentes estão a ser adiados.” As implicações destes atos são “diagnósticos tardios; crianças e jovens que poderão ter de fazer tratamentos mais agressivos, que por sua vez poderão agravar sequelas, ou mesmo colocar em risco a sobrevivência”.

A Acreditar refere também que no acompanhamento há sobreviventes de cancro pediátrico que viram as suas consultas adiadas. “O apoio psicológico, por profissionais especializados, dado a doentes em tratamento é deficitário em relação às necessidades, situação que se agravou com o isolamento”.

“As juntas médicas, em tempos normais já tão morosas, estiveram suspensas até finais de Junho, impossibilitando a obtenção ou renovação do Atestado Médico Multiuso, que define o grau de incapacidade”. Com isto surge a “perda de benefícios fiscais” e a “impossibilidade de acesso do jovem ao ensino superior através do contingente especial”.

“A investigação em oncologia pediátrica, que permitirá trazer novos tratamentos e novos medicamento é um sector sem investimento há muito”, explica em comunicado, acrescentando que tem procurado inverter a situação “com a promoção do diálogo entre os vários intervenientes”.

“O nosso receio é o de que, com os recursos absorvidos pelo combate à Covid-19, possa estar em causa a procura de tratamentos menos invasivos e de novos medicamentos para crianças e jovens. Estes avanços significariam menos efeitos secundários, menos sequelas, maior taxa e melhor sobrevivência”.

Quando ao regresso às aulas com recurso a ensino à distância, a Acreditar diz que esta “poderia ser a boa notícia, porque se generalizou proporcionar a todos os alunos muitas das respostas às necessidades que as crianças e jovens com doença oncológica deveriam ter, sempre que necessário, como o ensino à distância”. Contudo, o receio da Acreditar é o de “se estar a dar um passo atrás e voltar a colocar estes alunos ao sabor de recursos disponíveis nas escolas, da boa vontade e muitas diligências junto da tutela, como era frequente até há muito pouco tempo antes da pandemia”.

A Acreditar reitera que o “ e esta campanha ‘Setembro Dourado’ serve também para lançar o lema dos sobreviventes: O Cancro Não Me Define”.

Ao longo do ano, a Acreditar vai discutir temas como o passaporte oncológico, o acesso a seguros de vida e de saúde, as consultas de acompanhamento, em vários webinares.