“Nós vemos Alcochete como uma espécie de ‘Vendas Novas II’. Nós estamos localizados a 30 quilómetros daquela localização [onde vai surgir o novo aeroporto] e o impacto que vamos ter ao nível do nosso concelho sentir-se-á necessariamente”, disse Valentino Salgado Cunha, presidente da Câmara Municipal de Vendas Novas, em declarações à agência Lusa.

O presidente da câmara alentejana disse ainda não haver ressentimentos por o Governo ter escolhido o Campo de Tiro de Alcochete em detrimento de Vendas Novas.

“Não temos, propriamente, uma antevisão negativa desta decisão. Estamos contentes, obviamente, porque se decidiu. Possivelmente preferiríamos a localização de Vendas Novas, mas aceitamos a de Alcochete com agrado, com naturalidade e estamos aqui dispostos para trabalhar por isso”, afirmou.

“Nós não vemos esta escolha como uma competição. Aquilo que para nós era fundamental era que houvesse uma decisão e, finalmente, o Governo conseguiu decidir, neste caso, pela localização de Alcochete”, acrescentou.

Para o presidente da Câmara Municipal de Benavente, Carlos Coutinho, hoje “é um dia feliz”.

“Para a região de Benavente é seguramente uma boa noticia, porque vai assegurar o desenvolvimento e melhorar as condições de vida da nossa população […] e estamos preparados para receber uma infraestrutura desta natureza”, disse o autarca, em declarações à Lusa.

Carlos Coutinho recordou que o Campo de Tiro reúne uma série de condições que foram determinantes para a decisão final, nomeadamente a capacidade de expansão, a proximidade à região de Lisboa e o facto de estar “distanciado de núcleos populacionais”. Todas estas condições, sublinhou, foram "reconhecidas e apontadas como sendo a melhor solução para o país".

O presidente do município de Benavente alertou, contudo, que será necessário um conjunto de intervenções, sobretudo na rede rodoviária, para “evitar o colapso no tráfego automóvel”, apesar de o território já ter infraestruturas “muito boas”, com capacidade para dar resposta ao novo aeroporto.

O autarca salientou também o facto de, apesar de esta “ser uma boa notícia para a população de Benavente”, a nova infraestrutura não dever colocar em causar a identidade e os valores da região.

“Sabemos da importância desta infraestrutura, mas queremos preservar a identidade deste território. Somos um território que tem uma identidade própria, construída ao longo de muitas dezenas de anos e queremos manter a nossa identidade, não queremos que a nossa identidade e os nossos valores sejam colocados em causa”, disse.

Quanto aos eventuais impactos ambientais do novo aeroporto na região, Carlos Coutinho referiu que os problemas estão identificado, reiterando ser importante que “os solos não sejam contaminados”.

Relativamente ao abate dos sobreiros que terá de ser feito, o autarca assegurou que vai ser compensado com a plantação de novas árvores, “num número muito superior”.

O presidente da Câmara de Santarém, Ricardo Gonçalves, considerou que a decisão de construir o novo aeroporto da região de Lisboa no Campo de Tiro de Alcochete representa a solução “mais cara e demorada”, sendo necessários 10 a 12 anos.

“Saúdo o Governo pela decisão, mas fizemos aquilo que é normal em Portugal: escolhemos sempre o mais caro e o mais demorado”, disse Ricardo Gonçalves, em declarações à Lusa.

Segundo Ricardo Gonçalves (PSD), esta decisão prejudica os contribuintes, enquanto a opção Santarém era “aquela que melhor aproveitava as acessibilidades já existentes” e que “promovia uma melhor coesão territorial”.

Além disso, acrescentou o autarca, a opção Santarém reunia uma série de vantagens, nomeadamente o modelo de financiamento, suportado por privados, e o tempo necessário para construção da nova infraestrutura.

“Com esta decisão, serão necessários 10 a 12 anos para a construção do novo aeroporto, ao passo que em Santarém seriam necessários cinco a seis anos. É uma solução que seria mais rápida e menos onerosa para os contribuintes”, defendeu.

Sobre as questões ambientais, o autarca considerou que a opção Alcochete apresenta alguns problemas, nomeadamente o “abate de sobreiros” e o facto de este território albergar uma “das maiores reservas de água doce do país”.

Todas estas questões ecológicas e ambientais "podem vir a ser colocadas no futuro e colocar em causa a construção do aeroporto”, alertou.

O Campo de Tiro da Força Aérea, também conhecido como Campo de Tiro de Alcochete (pela proximidade deste núcleo urbano), fica maioritariamente localizado na freguesia de Samora Correia, no concelho de Benavente (distrito de Santarém), tendo ainda uma pequena parte na freguesia de Canha, já no município do Montijo (distrito de Setúbal).