"O projeto de arquitetura encontra-se aprovado", indicou, em resposta à Lusa, a Câmara do Porto.

O encerramento das Galerias Lumière (um espaço comercial) foi tornado público em outubro de 2019. À data, os lojistas falavam em "'bullying' imobiliário" por parte da administração das Galerias, que os pressionava, através de email e sucessivos contactos telefónicos, no sentido de abandonarem o espaço o quanto antes.

Em 2021, no espaço com dois pisos, resistiam apenas alguns lojistas, entre os quais, a Livraria Poetria - classificada como “tendo interesse cultural - que acabaria por abandonar o local no último trimestre daquele ano, após várias ordens de despejo e da autarquia ter aprovado a cedência temporária, por dois anos, de um imóvel na Rua Sá de Noronha por uma renda mensal de 50 euros.

Em resposta hoje à Lusa, o município adianta que o projeto de arquitetura do hotel a instalar nas Galerias Lumière foi aprovado em 20 de maio, tendo já sido submetidos os respetivos projetos de especialidade.

A autarquia indica ainda que foram introduzidas alterações ao projeto de arquitetura apresentado, no caso concreto no "vão exterior de acesso à Rua das Oliveiras do compartimento coletivo de armazenagem de contentores, que mereceu também parecer favorável da [extinta] DRCN [Direção Regional de Cultura do Norte]".

O projeto tinha já obtido parecer favorável do património cultural, após análise de um aditamento com esclarecimentos e correções, nomeadamente quanto aos materiais a aplicar no exterior do edifício e localização do sistema de AVAC (aquecimento, ventilação e ar condicionado).

De acordo com a informação prestada em novembro pela extinta DRCN, o aditamento em questão deu entrada nos serviços em 29 de setembro, tendo merecido, após análise, parecer favorável.

A decisão final, sublinhava então DRCN, competia à Câmara Municipal do Porto, enquanto entidade licenciadora.

As Galerias Lumière estão implantadas numa zona geral de proteção do Depósito de Materiais da Fábrica das Devesas, o que obriga a um parecer da Cultura.

Depois de um primeiro parecer desfavorável em janeiro de 2020, em maio daquele ano a autarquia acabou por emitir parecer favorável ao Pedido de Informação Prévia (PIP) para a unidade hoteleira, cujo projeto foi alterado para manter a galeria comercial, de ligação entre os dois arruamentos, ao nível do piso térreo, esclareceu, à data, a Câmara do Porto.

Na mesma altura, a DRCN também deu luz verde ao projeto. Após este parecer, sobre o Pedido de informação Prévia [PIP] foi submetido o projeto de arquitetura em 2022", tendo o mesmo merecido "parecer favorável condicionado a reformulações", a 25 de agosto daquele mesmo ano.

O último parecer, emitido a 25 de julho de 2023, condicionava a aprovação do projeto a esclarecimentos e correções, entre os quais a identificação "com rigor" de todos os materiais a manter ou a aplicar, assim como as respetivas cores, em todo o exterior do edifício que será mantido "muito próximo do existente".

O projeto deveria ainda "ter uma abordagem construtiva mais abrangente, que se detenha com detalhe na caracterização da cobertura retrátil do saguão e homogeneíze com um revestimento com godo todas as outras coberturas".

Por fim, tratando-se de uma unidade hoteleira, a que corresponderá uma instalação AVAC com uma dimensão significativa do equipamento exterior a instalar, a DRCN considerava ser necessário esclarecer sua localização e impacto.

Situadas no centro do Porto, as Galerias Lumière tiveram também o seu apogeu nos anos 80, com a inauguração de duas salas de cinema batizadas de “A” e “L” em homenagem aos irmãos franceses Auguste e Louis Lumière. As salas encerraram em 1997.

Em 2012 e 2013, a empresa proprietária do espaço, IMOCPCIS, SA, deu início a obras de restauro e de revitalização das lojas e da zona central e, em julho de 2014, as Galerias abriram novamente ao público com um novo projeto.

Em 2019,os lojistas começaram a ser contactados pela administração para abandonarem o espaço, uma vez que este iria ser vendido ao IDS Grupo para ali instalar um hotel, o que mereceu contestação pública.