Casas de banho e ideologias de género marcam a Convenção do Chega e Ventura é líder outra vez

Beatriz Cavaca
Beatriz Cavaca

Os Houthis e as eleições em Taiwan marcaram o dia a nível internacional, mas por cá foi da Convenção Nacional do Chega que mais se ouviu falar este sábado.

Este é já o segundo dia de trabalhos na VI Convenção Nacional do Chega, que arrancou pelas 10h30, com a apresentação de algumas moções temáticas, a que se seguiu o discurso de André Ventura, que durou mais de 40 minutos, apesar de o programa prever apenas 10.

Por volta das 15h15 abriram as urnas para eleger novamente o líder do partido, e ao final da tarde foram anunciados os resultados a partir do palco, com André Ventura reeleito presidente do Chega, com 98,9% de votos.

Quais os principais temas discutidos até agora?

Entre as propostas que não são novas e os ataques a Pedro Nuno Santos e à nova Aliança Democrática (PSD, CDS e PPM), desta vez os temas concentraram-se nas forças de segurança em protesto há vários dias, ideologias de género e casas de banho mistas. Houve ainda quem achasse por bem mandar os eleitores do PS para a NASA "para serem estudados".

A primeira a falar sobre casas de banho mistas foi a deputada Rita Matias, ainda no dia de ontem, no contexto da lei recentemente aprovada para criar casas de banho neutras nas escolas, e anunciou o fim das "casas de banho mistas". "Vamos garantir que a verdadeira inclusão é a que não deixa crianças com necessidades educativas especiais para trás. Esta é a nossa inclusão. Não é a inclusão arco-íris da doutrinação", disse a deputada no primeiro dia do encontro.

Esta seria uma posição apoiada já no dia de hoje pela adjunta da direção do partido, Patrícia Carvalho, responsável pela comunicação do Chega, que acusou “as manas Mortágua” do BE (Mariana e Joana Mortágua) de “fomentar a entrada dos homens no espaço íntimo das mulheres”, dando como exemplo as casas de banho mistas e a eleição da primeira mulher trans como Miss Portugal em 2023.

Já André Ventura, antigo e novo líder do partido, que se afirma um "candidato a governar", preferiu abordar o tema das associações da igualdade de género, relativamente às quais prometeu que, se chegar ao governo, cortará todos os subsídios das associações que promovam "ideologias de género e a igualdade de género".

“Eu garanto-vos uma coisa, aquele dinheiro todo que damos para as ideologias de género e para promover a igualdade de género […], vou pegar nesses milhões todos e vou dizer às associações: ‘esqueçam, não vão receber um tostão'”, declarou, admitindo que as suas afirmações podem ser consideradas polémicas.

O presidente do Chega alegou estarem em causa cerca de 400 milhões de euros e prometeu usar esse valor, caso venha a ter responsabilidades governativas, na criação de “um fundo de apoio” às forças de segurança e aos ex-combatentes.

Teve ainda lugar a opinião de Bruno Nunes, que referiu que: “Se o PS ganhar as eleições, todos aqueles que votaram no PS deviam ser colocados dentro de um frasco e enviados para a NASA para serem estudados, porque precisam de tratamento e de ser estudados por continuar a prolongar o socialismo em Portugal”.

Considerou também que Pedro Nuno Santos representa um “regresso a 1974”, ideia transmitida pelo presidente do partido no seu discurso ao final da manhã, e, numa referência à coligação pré-eleitoral Aliança Democrática (AD), defendeu que o Chega é a “alternativa democrática”.

Também Rui Afonso, eleito pelo Porto, defendeu a necessidade de “erradicar o socialismo de Portugal de uma vez por todas” e assinalou a “oportunidade única” para “fazer a diferença” nas próximas legislativas.

Acusando PS e PSD de alimentarem uma “rede de interesses e corrupção”, o deputado do Chega apontou que a AD “não representa alternativa”, que considerou estar no Chega.

Já Pedro Pessanha, eleito por Lisboa, defendeu que o Chega é “o único partido com valores de direita”, afirmando que “não haverá” solução política se for excluído o partido liderado por André Ventura, para quem pediu lealdade e dedicação e salientou que, “no governo ou na oposição”, o Chega é a “esperança de um Portugal livre do socialismo”.

Abordando os protestos das forças de segurança, defendeu ainda que é preciso que o Governo vá ao encontro das necessidades destes profissionais e leve a cabo uma revisão da carreira e dos seus vencimentos. Uma posição suportada por Ventura, que prometeu equiparar o subsídio de risco de todas as forças de segurança ao da Polícia Judiciária, dizendo que "nenhuma maioria de direita existirá" sem que esta seja a primeira medida a tomar.

Já Rui Paulo Sousa, eleito por Santarém em 2022, dedicou a sua intervenção ao tema da imigração, referindo que recentemente as suas declarações foram alvo de um ‘fact check’ pelo Polígrafo, concluindo que a comunicação social “ainda não percebeu” qual é a posição do partido sobre esta questão.

Referindo que enquanto empresário agrícola teve imigrantes a trabalhar para ele, o adjunto da Direção Nacional afirmou que o Chega defende uma imigração que “seja controlada” e não como acontece atualmente, em que “qualquer um entra neste país sem controlo e sem regulamentação”.

“Não somos nem racistas nem xenófobos nem contra a imigração daqueles que vêm por bem”, disse, pedindo “aos que não vêm por bem e não para trabalhar” para irem “para outro país”.

Por último, já no fim do dia, o líder parlamentar do Chega, Pedro Pinto, deixou um conjunto de promessas caso o partido tenha responsabilidades governativas, sem especificar quanto custa cada proposta e dizendo apenas que se irá buscar “à corrupção” o dinheiro necessário para implementar estas medidas.

Entre estas, está a promessa de acabar com o Imposto Municipal sobre Imóveis (IMI), “o imposto mais estúpido que há em Portugal”, e com o Imposto Único de Circulação (IUC), tendo o deputado assegurado que, caso o partido vá para o Governo, vai baixar o IVA da restauração para os 6% e ainda prolongar o IVA zero “pelo menos até ao final do ano” nos produtos essenciais, bem como aplicá-lo a todos os produtos portugueses.

Admitiu ainda que na Assembleia da República sentiu-se nos últimos dias “um cheiro diferente”, um “cheiro a queda do regime”.

*com Lusa

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