Portugal enviou para a Ucrânia seis helicópteros médios Kamov Ka-32A11B para apoiar Kiev na luta contra a invasão russa, iniciada em fevereiro de 2022.

Hoje, o Ministério dos Negócios Estrangeiros da Federação Russa afirmou que haverá "medidas de retaliação" contra Portugal e outros países da União Europeia pelo envio para a Ucrânia de material de uso militar, como é o caso destes helicópteros.

“Já anunciámos que encaramos a entrega de Kamov à Ucrânia como uma medida hostil em relação ao nosso país, medida que faz parte da caminhada dócil e inconsciente de Portugal e de outros países da União Europeia pela trajectória desenhada por Washington", afirmou a representante oficial da diplomacia russa, Maria Zakharova.

Que medidas de retaliação são estas? 

Não foram divulgadas. Numa vídeo-conferência à margem do IV Fórum Eurosiático de Mulheres, que encerra hoje na cidade de S. Peterburgo, a porta-voz indicou que as "medidas de retaliação serão estudadas em sigilo" e que "toda a gente" ficará a saber quando a Rússia começar a aplicá-las.

"Nós lembramo-nos dessas acções aquando da definição das relações bilaterais. Como toda a gente sabe, temos boa memória, apesar de não sermos vingativos".

O que diz a Ucrânia sobre este tema? 

O governo ucraniano disse não subestimar as ameaças da Rússia a Portugal e outros Estados-membros da UE pelo envio para a Ucrânia de material de uso militar.

“Não quero sobrestimar, mas também não posso subestimar, de qualquer forma, as ameaças da Rússia. São sempre sérias e, se eles ameaçam, eles fazem algo”, disse uma fonte ucraniana, quando questionada pela Lusa em Kiev sobre as declarações da diplomacia russa.

“O que é que eles podem fazer contra os portugueses? Não sou perito nisso, mas talvez em termos económicos, não sei”, acrescentou a mesma fonte.

Ainda assim, os membros do governo da Ucrânia ouvidos pela Lusa na capital ucraniana disseram “valorizar muito” as relações entre Kiev e Lisboa, falando nas “comunicações frutíferas” entre os dois países desde o início da guerra causada pela invasão russa em fevereiro de 2024.

Portugal, por sua vez, ainda não se manifestou sobre estas declarações.

Como vai a guerra?

Nas últimas semanas, as tropas russas, mais numerosas e mais bem equipadas, prosseguiram o seu avanço na frente oriental, apesar da ofensiva ucraniana na Rússia, na região de Kursk.

As negociações entre as duas partes estão completamente bloqueadas desde a primavera de 2022, com Moscovo a continuar a exigir que a Ucrânia aceite a anexação de uma parte do seu território.

Sobre o conflito, Maria Zakharova condenou também "o regime de Kiev e seus mentores ocidentais", que "continuam a discutir a possibilidade da utilização de mísseis de longo alcance capazes de atingir as profundezas" da Rússia.

Acusou ainda o exército ucraniano de cometer "crimes monstruosos contra a população pacífica" do território da Federação Russa que tomou, na região de Kursk (sul), equiparando-o "aos fascistas na II Guerra Mundial" e seus métodos.

"O regime sediado em Kiev há muito que aposta no terrorismo como meio de acção, o que constitui uma ameaça para o mundo", afirmou, apontando como exemplo a pressão que as forças ucranianas estão a exercer sobre a central nuclear de Kursk.

Maria Zakharova virou-se também contra os Estados Unidos por levarem "a desestabilização a vários pontos do Mundo, de um modo sistemático", afetando também países como a China.

"Washington e seus seguidores, tentanto preservar um domínio que veem fugir-lhe das mãos, em vez de aceitarem uma concorrência honesta e uma cooperação construtiva baseada em direitos iguais, recorrem a processos ilegítimos de contenção financeira, económica e tecnológica”, acusou a diplomata.

“Não lhes interessa essas restrições façam sofrer as populações, incluindo as dos EUA”, afirmou.

De recordar que a guerra na Ucrânia já provocou dezenas de milhares de mortos de ambos os lados, e os últimos meses foram marcados por ataques aéreos em grande escala da Rússia contra cidades e infraestruturas ucranianas, ao passo que as forças de Kiev têm visado alvos em território russo próximos da fronteira e na península da Crimeia, ilegalmente anexada em 2014.

Já no terceiro ano de guerra, as Forças Armadas ucranianas confrontaram-se com falta de soldados e de armamento e munições, apesar das reiteradas promessas de ajuda dos aliados ocidentais, que começaram entretanto a concretizar-se.

*Com Lusa