A queixa apresentada pelo Centro Europeu de Apoio Jurídico e por três organizações de direitos humanos (Al-Haq, SOMO e The Rights Forum) tem por base uma pesquisa que revelou que a Booking.com inclui listagens de casas para arrendar em colonatos israelitas ilegais.

"A nossa pesquisa, realizada de março de 2021 a 15 de maio de 2023, revelou a extensão dos danos causados pela presença de alojamentos nos Territórios Palestinianos Ocupados. Inicialmente, identificámos 51 listagens na Booking.com, com 19 situadas em Jerusalém Oriental e 32 noutras partes da Cisjordânia. Investigações subsequentes em julho de 2022 e maio de 2023 revelaram um aumento preocupante, com o número total de listagens a subir para 70, incluindo 13 em Jerusalém Oriental e 57 noutras áreas da Cisjordânia", pode ler-se no site de uma das organizações, a SOMO.

A denúncia argumenta que as receitas que a Booking.com realiza ao arrendar propriedades nos colonatos são provenientes de atividades criminosas. "Com base na nossa investigação sobre a estrutura corporativa, propriedade e finanças da Booking.com, incluindo receitas e taxas de reserva, concluímos que todos os seus lucros provenientes dos colonatos israelitas são registados nos Países Baixos, sendo assim lavados através do sistema financeiro neerlandês, em violação à legislação neerlandesa de combate à lavagem de dinheiro", acrescenta a SOMO.

A queixa refere ainda que as propriedades listadas pela Booking.com nos colonatos estão disponíveis para hóspedes sob condições de discriminação. Os residentes palestinianos da Cisjordânia que possuem a terra (confiscada pelas autoridades israelitas) onde as propriedades estão construídas não podem ficar nessas propriedades, mesmo que paguem pela sua estadia. Isto deve-se ao facto de que, sem uma autorização, seriam impedidos de entrar num posto de controlo militar ou na porta de segurança na entrada do colonato.

As questões sobre o arrendamento pela Booking.com de casas em territórios ocupados existem desde, pelo menos, 2018.

Segundo relata a SOMO, há cerca de dois anos a Booking.com chegou a avaliar a inclusão de um aviso sobre direitos humanos nas listagens de propriedades localizadas nos colonatos. "No entanto, o Ministro do Turismo de Israel respondeu fortemente, e a Booking.com pareceu mudar de rumo. A empresa adicionou um aviso genérico para todas as listagens na Cisjordânia – incluindo alojamentos palestinianos – dizendo que a área "pode ser considerada afetada por conflitos" pelo governo do cliente. O rótulo não mencionava a ilegalidade dos colonatos ou preocupações com os direitos humanos", refere a ONG.

Segundo a SOMO, quando questionada sobre as alegações de lavagem de dinheiro, a Booking respondeu que discordava . " Permitiremos listagens em qualquer lugar do mundo, a menos que sejam legalmente proibidas pelas leis locais", terá sido a resposta.

"Lucrar com crimes de guerra é ilegal segundo a lei penal neerlandesa, especificamente o artigo 1 (4) da Lei de Crimes Internacionais Neerlandesa (Wet Internationale Misdijven). Ao lucrar com violações graves do direito humanitário internacional, a Booking.com está a itroduzir os lucros do crime no sistema financeiro neerlandês – o que significa que a empresa é culpada de lavagem de dinheiro", argumenta o Centro Europeu de Apoio Jurídico