Em comunicado enviado esta quinta-feira, 9 de abril, a Ordem dos Médicos diz-se preocupada com falta de resposta a doentes prioritários.

"Os doentes não COVID-19, por falta de estratégia e organização da tutela, estão a ser relegados para segundo plano em patologias que não podem esperar", denuncia a Ordem.

Em causa, assinala, está "o diagnóstico, tratamento e/ou seguimento com exames complementares de doentes oncológicos, de doentes transplantados ou a aguardar transplante, de doenças neurológicas, de outras doenças crónicas como doenças autoimunes, insuficiência cardíaca, DPOC, doenças inflamatórias intestinais, insuficiência renal, diabetes, etc."

Ou seja, "doenças que podem descompensar rapidamente, em doentes com medo da COVID-19 e sem alternativa fácil a cuidados de saúde".

“Temos noção que numa pandemia como a que estamos a viver é impossível conseguirmos manter toda a atividade normal e responder aos doentes com COVID-19 no SNS. Aliás, nem seria prudente ter os médicos e restantes profissionais totalmente tomados pela atividade programada “normal” e com risco acrescido de eles próprios contraírem o novo coronavírus. Mas também não podemos aceitar que se esteja a fazer uma gestão meramente política desta pasta, em que parece que só os números da pandemia importam e todas as outras doenças e mortes deixaram de existir”, afirma Miguel Guimarães, bastonário da Ordem dos Médicos.

Para sustentar esta preocupação, a Ordem cita alguns números: "alguns dados vindos a público esta semana indicam que houve um crescimento sustentado da mortalidade ao longo do mês de março. Os dados da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto e do CINTESIS referem uma subida de uma média de 297 mortes por dia nos primeiros sete dias de março, para uma média de 352 mortes por dia nos últimos sete dias. O ano de 2020 teve por isso os últimos dez dias de março com mais mortes dos últimos 12 anos — 3471. Já os dados da London Business School alertam para mais 984 mortes entre 16 de março e 3 de abril, sendo que só 266 foram oficialmente atribuíveis ao novo coronavírus. Ao mesmo tempo, segundo o Portal do SNS, no recurso a urgências hospitalares assistiu-se a uma quebra muito significativa. Só em março, registaram-se menos 246 mil episódios de urgência em relação ao mesmo mês do ano passado e menos 181 mil do que em fevereiro".

Defende Miguel Guimarães que "é urgente que o Ministério da Saúde crie uma task-force, eventualmente a funcionar junto da Administração Central do Sistema de Saúde (ACSS), que monitorize com muita transparência e seriedade o que está a acontecer aos outros doentes e que faça contactos diretos para que ninguém fique perdido".

"Os danos que a COVID-19 está a infligir na nossa sociedade já são suficientemente cruéis para podermos aceitar ainda mais danos colaterais”, acrescenta.

No final desta nota, o bastonário "lamenta que a tutela não tenha acolhido a proposta da Ordem dos Médicos, feita logo no início de março, de ter hospitais públicos e privados ou áreas específicas bem delimitadas dentro dos mesmos apenas dedicados à COVID-19, até para reforçar a confiança dos outros doentes de que poderiam ir em segurança aos hospitais que não recebessem doentes infetados".

Portugal registou até esta quarta-feira, 8 de abril, 380 mortes associadas à covid-19 e 13.141 infetados. Os primeiros casos conhecidos em Portugal surgiram há pouco mais de um mês e em meados de março o Governo mandou encerrar todas as escolas do país. Dias depois, 19 de março, decretou o Estado de Emergência, que já foi prorrogado por mais 15 dias.