Esta quarta-feira, a Web Summit divulgou o seu quinto relatório global "Women in Tech Survey 2024" sobre as mulheres na tecnologia, que mostra que as mulheres nesta área continuam a ser mal pagas, sub-representadas e sub-financiadas.

Entre as mais de 1.000 mulheres, que responderam a um inquérito que permitiu alcançar os resultados apresentados, 50,8% experienciaram sexismo no trabalho, um número sem grandes alterações nos últimos anos.

Por sua vez, quase metade (49,1%) das mulheres sentiram-se pressionadas a escolher entre a família e a carreira, sendo que houve um aumento de 7% em relação ao ano passado.

As inquiridas identificaram ainda o preconceito inconsciente de género, o equilíbrio entre a carreira e a vida pessoal, a escassez de modelos femininos, a síndrome do impostor, a falta de redes de apoio e as dificuldades de financiamento como os seus desafios mais significativos no setor da tecnologia.

“É frustrante que questões como sexismo, remuneração injusta, síndrome do impostor e equilíbrio entre a vida pessoal e profissional continuem a aparecer. Muitas vezes parece que estamos presos nas mesmas conversas", afirma Carolyn Quinlan, a vice-presidente da comunidade da Web Summit, em comunicado enviado às redações.

"No entanto, não posso deixar de me sentir esperançosa. Mais mulheres estão a destacar-se, liderando e trazendo as suas startups para eventos como a Web Summitˮ, continua.

“Desde 2021, a Web Summit tem mantido uma proporção quase igual de participantes homens e mulheres, e o aumento da participação feminina e das startups fundadas por mulheres dá-me esperança de que podemos levar estas conversas adiante e criar um futuro onde a tecnologia é um espaço para todos, não apenas para homens", conclui Carolyn.

Apesar da falta de iniciativas, cada vez mais mulheres têm o poder de se destacar à medida que surgem oportunidades.

Cerca de 76% das mulheres entrevistadas pela Web Summit disseram que se sentiam capacitadas para ocupar ou candidatar a um cargo de liderança.

Por sua vez, mais de 80% das mulheres afirmaram que há uma mulher na gestão da sua empresa, com 68,2% a afirmarem que uma mulher ocupa um cargo de nível C - chefes de departamentos.

Nesse sentido, mais de 68% das entrevistadas afirmaram ter uma perspetiva positiva sobre o impacto da IA e da automação na igualdade de género. Estas acreditam que, quando usada de forma responsável, a IA pode abordar o preconceito na gestão de talentos e melhorar a colaboração no local de trabalho.

O apelo à mudança é, portanto, evidente. Cerca de 56% das mulheres disseram sentir que a indústria não está a fazer o suficiente para combater a desigualdade de género e 69% mostraram-se insatisfeitas com os esforços do seu Governo.

Em 2015, a Web Summit lançou o programa "Women in Tech" para combater a desigualdade de género. O programa oferece descontos para incentivar mais mulheres a assistirem e participarem em eventos tecnológicos, tornando-os mais acessíveis e inclusivos e ajudando a promover um setor tecnológico mais diversificado e inovador.

Um ano após o lançamento da iniciativa, 42% dos participantes na Web Summit eram mulheres, contra os 25% em 2013. Já em 2021, as mulheres superaram os homens, pela primeira vez, atingindo 50,5%.

Além do aumento da participação, o número de startups fundadas por mulheres também aumentou.

Aliás, a Web Summit 2024, que vai decorrer entre os dias 11 e 14 de novembro, em Lisboa, irá bater recordes com 1.000 das 3.000 startups presentes a serem fundadas por mulheres.

Já na edição que teve lugar, em abril deste ano, no Rio de Janeiro, 45% das 1.000 startups presentes tinham uma mulher como fundadora. Na mesma medida, na Web Summit Qatar 2024, 37% dos participantes eram mulheres, 30% dos oradores eram mulheres e 31% das 1.000 startups presentes foram fundadas por mulheres.

As estatísticas da Web Summit seguem as tendências globais. De acordo com o Banco Mundial, nas grandes empresas, as mulheres ocupam apenas 26% a 29% dos cargos de liderança. Já a representação feminina continua a cair, situando-se abaixo dos 50%.

Por outro lado, uma análise do Fórum Económico Mundial, com base nas estatísticas do Pitchbook, conclui que as startups só de mulheres receberam apenas 1,8% do financiamento de capital de risco na Europa e 2% nos Estados Unidos da América (EUA), em 2023.

Dados semelhantes da Wamda mostram que as startups só de mulheres na região MENA receberam apenas 0,47% do financiamento, em 2023.