A empreitada de requalificação da rua de Fernandes Tomás, no troço compreendido entre a de Sá da Bandeira e a do Bonjardim, arrancou em 29 de janeiro e devia ter terminado no final do mês de março, mas a poucos dias do novo prazo indicado pela autarquia aos comerciantes para a conclusão da obra - 12 de abril – os trabalhos, afirmam os comerciantes, continuam muito atrasados e rua quase "intransitável" para os peões.

“Desde que começaram as obras a faturação do restaurante desceu 50%. O proprietário reuniu, inclusivamente, com as várias entidades envolvidas para tentar sensibilizá-los para o problema, nomeadamente para a necessidade de reforço dos trabalhadores, porque a continuar assim, ele está na iminência de ter que dispensar alguns trabalhadores”, afirmou Mário Viana, que falou em nome do proprietário do Restaurante Vaccarum, Guido Arroil, que se encontra, neste momento, fora do país.

“O dia 12 de abril é já ali e a rua está como está”, acrescentou, explicando que grande parte dos clientes do restaurante são turistas que, por causa das obras, voltam para trás quando se deparam com o estado da rua.

Segundo Mário Viana, neste momento, apenas os clientes que já conhecem o espaço, se deslocam ao estabelecimento, que assistiu a uma redução drástica do número de jantares servidos, e ao almoço, há dias, em que não têm um cliente.

Também Pedro Neves, proprietário de uma sapataria em Fernandes Tomás, fala em prejuízos na ordem dos 60% quando comparado com as vendas de há dois anos e acusa a autarquia de não ter acautelado devidamente os interesses dos comerciantes.

“É o desrespeito por quem tenta sobreviver. O comércio tradicional foi mutilado nos anos da crise, está fragilizado e esta situação vem piorar as coisas. Rebentar um passeio às 9:30 de um sábado, sem dar cavaco a ninguém, quando este é o melhor dia da semana para o negócio, é uma falta de respeito”, afirmou.

Apesar de reconhecer a importância da obra em curso, o comerciante considera que a intervenção foi mal projetada.

“Soubemos da obra, por carta, poucos dias antes de começarem os trabalhos. Deviam ter articulado com os comerciantes que poderiam, por exemplo, ter optado por fechar durante algum tempo para minimizar os prejuízos”, defendeu sublinhando que, durante estes meses, no local, esteve apenas destacada “uma equipa de 6 a 8 homens, das 9:00 às 17:00”.

Também Mónica Paiva, funcionária de uma loja de moda íntima em Fernandes Tomás, garante que, com as obras, as lojas estão praticamente vazias, chegando a estar grande parte do dia sem atender um cliente.

“Não acredito que as obras vão ficar prontas no dia 12 e começa a ser complicado aguentar o prejuízo. Há coleções compradas e contas para pagar. Estamos aqui dias e dias a olhar para o balão. Se continuar assim não dá para aguentar. Está assustador”, afirmou.

No caso da loja de decoração Muy Mucho, as obras têm causado inúmeros constrangimentos, nomeadamente na receção da mercadoria e obrigaram mesmo a fechar o estabelecimento durante cerca de duas horas.

“Com a rua cortada, só mesmo os clientes habituais vêm à loja. Há dias em que estamos duas, três horas sem entrar um cliente”, afirmou Rita Pinheiro, funcionária daquela loja que tem um buraco mesmo em frente à porta.

À Lusa, o presidente da Associação de Comerciantes do Porto, Joel Azevedo, disse estar em conversações com a Câmara do Porto no sentido de encontrar uma solução que minimize o impacto económico desta obra.

“Estamos a articular com a câmara. A câmara tem estado muito disponível para encontrar formas de compensação para os comerciantes afetados pelas obras que estão a decorrer”, disse.

Em resposta enviada à Lusa, a Câmara do Porto afirma que “em reunião realizada na CMP [Câmara Municipal do Porto] com representantes dos comerciantes, foi disponibilizada informação que apontava para a conclusão dos trabalhos, na rua de Fernandes Tomás, no início do próximo mês de maio”, previsão que “ainda se mantém”, sublinha a autarquia.

A câmara esclarece, contudo, que foi admitida pelo município a possibilidade de “abertura do trânsito automóvel no troço entre a rua de Sá da Bandeira e a do Bonjardim até final de março, antes da pavimentação final do arruamento e logo que concluído o troço inicial (troço antes da rua do Bolhão)”.

“Esta abertura está atrasada, em cerca de 15 dias, atendendo à existência de algumas infraestruturas que se encontravam em mau estado e que foi necessário reparar ou substituir”, explica a autarquia em resposta enviada à Lusa.

Ainda segundo o município estão a ser feitos todos os esforços no sentido de minimizar o prazo da obra, incluindo a realização de trabalhos ao sábado.

O município afirma também que “sempre que possível, é prestada regularmente informação, aos comerciantes da zona, estando já agendada nova reunião para o efeito”.

A empreitada de “Reabilitação das Ruas de Guedes de Azevedo e do Bonjardim” foi consignada a 29 de janeiro de 2019, com um prazo de execução de 270 dias (dividido em cinco fases), estando “a conclusão da obra está prevista para novembro de 2019”, lembra a autarquia.