Yáñez depôs por cerca de quatro horas ao procurador Ramiro González. O procedimento foi realizado por videoconferência a partir do consulado argentino em Madrid, onde ela reside.

"Ela pôde prestar depoimento e sentiu-se muito confortável", afirmou à imprensa a advogada de Yañez, Mariana Gallego, acrescentando que "resta apenas confiar na justiça e nos passos processuais".

Numa declaração por escrito apresentada à Justiça na segunda-feira, à qual a AFP teve acesso, Yañez afirma que "os maus-tratos, assédio, desprezo, agressões, socos, eram uma constante" e que levava "estaladas quase diárias".

Ex-jornalista de 43 anos, Yáñez, que tem um filho de dois anos com Fernández, consignou no documento que a sua convivência com o agora ex-mandatário começou em 2016.

Yáñez também afirmou que Fernández exerceu sobre ela "violência reprodutiva" ao pressioná-la a fazer um aborto naquele mesmo ano.

Há uma semana, Yáñez denunciou o ex-presidente por violência física e psicológica e, na quinta-feira, a imprensa local publicou supostas conversas e fotografias em que ela aparece com hematomas no rosto e no braço.

Na sua declaração por escrito, a ex-primeira-dama detalhou as circunstâncias de um desses golpes: "Tínhamos discutido antes, muito, como já era habitual, e como encerramento da discussão ele acertou-me com um terrível soco do seu lado da cama ", relatou, acusando o médico presidencial de encobrir o facto.

Não participaram no depoimento de Yáñez nesta terça-feira, por decisão do juiz, nem o ex-presidente nem a sua advogada, o que levou esta última a considerar perante a imprensa que "a audiência não é válida".

"Porque é que não são permitidas as perguntas desta defesa para que o meu cliente possa exercer o direito constitucional correspondente?", indagou a advogada, assegurando que Fernández vai depor quando for solicitado.

Além de uma eventual apresentação à Justiça, Fernández deu a sua versão dos fatos à imprensa, num capítulo adicional de um caso que mantém os argentinos em suspense e cujo impacto político cresce a cada dia.

Em entrevista ao jornal espanhol El País publicada nesta terça-feira, Fernández negou ter "sido autor de qualquer um desses factos". "Estou a ser acusado de algo que não fiz. Não bati em Fabiola. Nunca bati numa mulher", afirmou. "O que farei é esperar, ir à Justiça e deixar que esta resolva", acrescentou o político de 65 anos.

Noutras declarações ao meio de comunicação local El Cohete a la Luna, Fernández disse que o hematoma visível no olho de Yáñez nas fotos deveu-se a um tratamento estético e não a um golpe desferido por si. Fernández também considerou que "há alguém que incentivou" Yáñez a denunciar e afirmou que há um aproveitamento político do governo (do presidente Javier Milei).

A denúncia surgiu a partir da revelação à imprensa de mensagens entre Yáñez e a secretária particular de Fernández, María Cantero, a quem a então primeira-dama teria contado sobre as agressões sofridas.

As mensagens foram encontradas no âmbito de outro processo que investiga supostos atos de corrupção para o qual o telemóvel de Cantero foi periciado.

Desde de que a denúncia tornou-se pública, o governo atual apontou para Fernández e para o que Milei classificou como "hipocrisia progressista" num comunicado emnasua conta na rede social X.

Nesta terça-feira, o atual presidente voltou a atacar o seu antecessor ao falar nas suas redes sociais sobre "Alberto Fernández, paladino do feminismo, batendo na sua esposa".

Milei também atacou a denunciante: "Isso não impede que FY [Fabiola Yáñez] tenha sido cúmplice (especialmente na pandemia) de muitas das aberrações do governo horrível do kirchnerismo", escreveu, referindo-se à famosa foto de Yáñez comemorando o seu aniversário durante o confinamento.

O caso trouxe alívio para a agenda do governo perante a delicada situação económica que enfrenta, com uma inflação de 271% e metade da população na pobreza, e foi um duro golpe para a oposição peronista.

Na sexta-feira, a ex-presidente e ex-vice-presidente de Fernández, Cristina Kirchner, afirmou no X que o seu companheiro de governo "não foi um bom presidente".

Além disso, considerou que as imagens reveladas sobre o caso "delatam os aspectos mais sórdidos e obscuros da condição humana".