“Recentemente apresentei 23 razões pelas quais a CPLP não funciona, mas essencialmente a questão é haver países muito diversos e lógicas de desenvolvimento diferentes”, disse Seixas da Costa na sua intervenção no segundo fórum de Economistas da Associação Lusófona de Economia (ALECON), que decorreu hoje em Lisboa.

No painel sobre ‘O papel da CPLP na economia global’, Seixas da Costa defendeu que a CPLP, ao contrário de outras organizações baseadas na partilha da língua, “é centrada à volta do país colonizador”, e acrescentou que “o Brasil tem um dinâmica própria no quadro internacional que coloca dificuldade ao controlo da máquina” da organização dos países lusófonos.

“Nunca vi no Brasil grande empenho do Brasil na CPLP, porque nunca precisou da CPLP para a sua afirmação internacional”, salientou.

Isso, argumentou o diplomata, “foi um fator negativo para a CPLP ao longo dos anos, e continua a sê-lo, porque o Brasil não investe na CPLP como ponto central da sua atuação externa, e isso limita a atuação da CPLP” nos grandes fóruns internacionais.

Para Seixas da Costa, é preciso garantir um sentimento de pertença e de união dentro dos países da CPLP: “A incerteza global e a possibilidade de, no futuro, não estarmos todos no mesmo barco é cada vez maior; a capacidade de intervir na economia global e a eventualidade de se separar na forma política e em dimensões diversas, como os BRIC [grupo que integra o Brasil, a Rússia, a China e a Índia, no formato inicial] ou a Europa [numa referência à União Europeia], cria um sentimento negativo no pano de fundo político no qual se projeta a CPLP, o que cria dificuldades à inserção internacional da CPLP”.

Para Seixas da Costa, para que a CPLP ganhe mais importância internacional, é preciso garantir mais união e elementos agregadores: “Temos de garantir fatores de agregação para evitar que a diversidade e a dinâmica de divisão criem dificuldades ao prosseguirmos esta instituição”, concluiu.

A intervenção do antigo embaixador foi feita minutos antes da cerimónia de encerramento do segundo fórum dos economistas, que terminou com a atribuição do grau de economista emérito a Américo Ramos dos Santos, na qual participou e interveio o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa.

No discurso de agradecimento pelo reconhecimento dos pares, que precedeu a intervenção de elogio da primeira dama de Angola, Ana Dias Lourenço, o economista Ramos dos Santos “saiu do papel”, nas suas palavras, e apresentou dois fatores que podem unir a CPLP.

“Para termos uma CPLP mais lógica e mais coesa, o principal desafio é identificar quais são os vetores que podem constituir o cimento da CPLP, e penso que a língua e o mar são os mais importantes fatores de coesão entre nós”, apontou.