O ano de 1982 marca o início de uma nova era no FC Porto - um clube que foi refundado e recuou 13 anos, de 1906 para 1893. Aqui se marca legitimamente o início da era cPC (com Pinto da Costa) e que sucede à aPC (antes de Pinto da Costa).

Nascido em 1937 e sócio dos ‘azuis e brancos’ desde dezembro de 1952, Pinto da Costa assume, 10 anos depois, o primeiro cargo no seu clube do coração, como chefe de secção do hóquei em patins e em campo.

Em 1967, ‘pega’ também na secção de boxe, onde conhece Reinaldo Teles, então praticante da modalidade e que o vai acompanhar em grande parte do seu percurso à frente da entidade, até falecer em 2020, vítima de covid-19.

O então presidente Afonso Pinto de Magalhães convida-o depois para integrar a sua lista às eleições como responsável pelas modalidades amadoras, mantendo-se no cargo até 1971, quando rejeita pertencer aos órgãos sociais de Américo de Sá.

Contudo, em 1976, acaba mesmo por integrar a lista de Américo de Sá, pela primeira vez como responsável do futebol.

Com José Maria Pedroto, a primeira grande figura dos mandatos de Pinto da Costa, no banco, o FC Porto interrompe a pior seca da sua história e, 19 anos depois, volta a sagrar-se campeão português em 1977/78, naquele que foi apenas o sexto título dos portistas.

Após repetir o feito na temporada seguinte, Pinto da Costa deixa o clube em 1980, acabando por regressar dois anos depois pela porta grande, como Presidente, cadeira que não deixou desde então, sendo, em 2020, reeleito pela 15.ª vez, num sufrágio em que, pela primeira vez, teve dois adversários.

Um legado de conquistas

Para que tenha uma ideia, durante a vigência de Pinto da Costa, os azuis e brancos conquistaram 69 troféus, sete dos quais internacionais: duas Liga dos Campeões, duas Liga Europa, duas Intercontinentais e uma Supertaça Europeia.

A estes, Pinto da Costa juntou 23 campeonatos, 15 Taças de Portugal, 22 Supertaças Cândido de Oliveira, uma Taça da Liga e ainda um título da Liga 2, conquistado pela equipa B

Antes de Pinto da Costa, o clube tinha conquistado apenas cinco campeonatos de Portugal, sete nacionais, quatro Taças de Portugal e uma Supertaça Cândido de Oliveira. E para que se tenha noção do cariz dominador que imprimiu aos azuis e brancos, em 39 edições do campeonato nacional de futebol vividas durante a era Pinto da Costa, o Benfica venceu 17 e o Sporting três, restando a célebre conquista do Boavista em 2000/01. Além disso, foi sob a sua égide que o FC Porto alcançou o único ‘penta’ da história (1994/96 a 1998/99) do principal escalão do futebol em Portugal.

A nível internacional, os títulos europeus eram uma miragem para o FC Porto antes da sua chegada. O clube tornou-se um nome conhecido a partir de 1984, quando atingiu a final da Taça das Taças, perdida para a Juventus, três anos antes da conquista da primeira Taça dos Campeões Europeus, em Viena, frente ao Bayern Munique, seguida pela Supertaça europeia e pela Taça Intercontinental.

Já no século XXI, Pinto da Costa esteve nas conquistas de uma Taça UEFA (2002/03), uma Liga dos Campeões (2003/04), uma Taça Intercontinental (2004) e uma Liga Europa (2010/11).

Pinto da Costa ficará ainda ligado ao rebaixamento do Estádio das Antas, à construção do Estádio do Dragão e do Dragão Arena, do Museu do clube, do centro de estágio em Vila Nova de Gaia, bem como à renovação do antigo campo da Constituição.

A sombra do Apito Dourado

Contudo, nem tudo foram conquistas para Pinto da Costa, suspeito de corrupção desportiva no caso ‘Apito Dourado’, em que foi acusado de ter corrompido árbitros na temporada 2003/04, com os factos a centrarem-se nos encontros com o Beira-Mar e o Estrela da Amadora.

Em 2 de dezembro de 2004, a PJ deslocou-se a casa de Pinto da Costa, que não se encontrava no local, com o presidente ‘azul e branco’ a apresentar-se no tribunal no dia seguinte, acabando por, em 07 de dezembro, manter-se em liberdade mediante o pagamento de uma caução de 200 mil euros.

As escutas – muitas delas tornadas públicas na internet – foram a principal prova usada contra o dirigente portista e os restantes arguidos, mas o Tribunal Constitucional acabaria por declará-las nulas, o que levou a que grandes partes das acusações caíssem, mesmo com as ondas de choque causadas pelo livro de Carolina Salgado, antiga companheira do presidente, que trazia novas acusações.

Neste processo, Pinto da Costa chegou a ser suspenso por dois anos pela justiça desportiva e foram retirados seis pontos ao FC Porto.

Além do ‘Apito Dourado’, o presidente dos ‘dragões’ voltou a ter problemas com a justiça em 2016, quando, juntamente com mais 56 arguidos, foi acusado no caso da Operação Fénix, relacionada com utilização de segurança privada.

Em 2021 e 2022, o seu nome voltou a ser envolvido em problemas com a justiça, tendo sido alvo de buscas no âmbito das Operações Cartão Vermelho e Prolongamento, sem que, até ao momento, tenha havido qualquer desfecho sobre as mesmas.

Sempre polémico, Pinto da Costa foi colecionando ‘ódios’, em especial com os rivais lisboetas, sendo um dos mais sonantes nomes na ‘guerra’ norte-sul, sempre apoiante da regionalização, contra o poder de Lisboa.

Embora nunca tenha concorrido a cargos públicos, acabou por ser sempre uma voz importante na cidade do Porto, apoiando e sendo apoiado por vários presidentes da Câmara Municipal.

Contudo, entre 2002 e 2013, a relação entre o município e o FC Porto sofreu um ‘corte’ praticamente completo, com Rui Rio a separar a política do clube, e Pinto da Costa a chegar a declarar o ainda líder do PSD como pessoa ‘non grata’.

Este sábado, depois de quatro décadas de hegemonia à frente do FC Porto, Pinto da Costa vê os sócios a votar pela mudança, dando a André Villas-Boas, um treinador seu, a responsabilidade de escrever como Presidente os próximos capítulos da história dos dragões.

*com Lusa